terça-feira, 25 de novembro de 2008



25 de novembro de 2008
N° 15800 - PAULO SANT’ANA


Deu a lógica

Em quase todo o decorrer deste campeonato nacional, me acusaram de pessimista. Eu próprio me acusava de pessimista.

Nunca confiei na liderança do Grêmio, sempre a coloquei em dúvida, em face dos parcos recursos técnicos do time.

Vê-se agora que eu não era pessimista. Eu sou realista e racionalista. Torço como ninguém torce tanto pelo Grêmio, mas o meu coração nada tem a ver com meu cérebro.

Torço mas não acredito, quero o milagre mas não vibro, porque raciocino que o milagre não vem.

Um time que leva 4 a 2 do Vitória na antepenúltima rodada, na reta final da decisão do título, acho que agora todos consideram: não merece ser campeão, se fosse campeão, como quase aconteceu, seria uma conquista lunática e imerecida.

Por sinal, a liderança que o São Paulo ostentava até sábado passado era ilegítima: tinha sido fruto de um gol legítimo do Botafogo mal anulado pelo juiz, a conselho de um bandeirinha, no jogo contra o São Paulo.

Aquele roubo escancarado estava martelando e fazendo doer no meu espírito. Por causa daquele vergonhoso erro de arbitragem, o Grêmio ficara dois pontos atrás do São Paulo e, se persistisse essa desvantagem até o fim do campeonato, o campeão seria indevido, injusto e indecoroso.

Agora, com a derrota vexatória do Grêmio para o Vitória, o título de campeão do São Paulo passa a ser justo, adequado, meritório – e eu fico em paz com relação ao resultado.

Os otimistas esperançados, os que acreditaram até o fim que o Grêmio iria ser campeão, estão agora entendendo que o Grêmio já está classificado para a Libertadores do ano que vem.

Disse o Sílvio Benfica, ontem, que o Grêmio precisa ganhar uma partida e empatar a outra para garantir lugar no G4.

Mas eu pergunto: com que roupa? Qual a garantia que o Grêmio dá de que tem time suficiente para, contra o Ipatinga e o Atlético Mineiro, fazer quatro pontos? Qual?

Então, a situação gremista para ingressar na Libertadores é muito delicada. É certo que o Flamengo tem três pontos a menos que o Grêmio.

Mas, se o Flamengo ganhar do Goiás na próxima rodada, se iguala em pontos com o Grêmio, se iguala em vitórias, mas tem saldo de gols superior ao do Grêmio. Ou seja, se o Grêmio não ganhar do Ipatinga, venham por mim, hipótese muito provável, pode esfarelar-se completamente a possibilidade gremista de jogar a Libertadores no ano que vem.

E o caso do Cruzeiro: tem dois pontos atrás do Grêmio, mas joga na próxima rodada com o Internacional, no Beira-Rio, ou seja, só um louco, um varrido, um alienado não sabe que o Internacional vai perder para o Cruzeiro. E aí como é que fica o Grêmio para restar no G4?

A respeito dessa derrota certa que o Internacional terá sobre o Cruzeiro no próximo domingo, cabe abordar um assunto que está sendo também desconhecido por todos.

O Internacional jogou com reservas contra o São Paulo, desinteressando-se completamente do resultado do jogo e perdendo com serenidade, em face de que desfavorecia o Grêmio para a conquista do título. Isto todo mundo sabe.

E todo mundo sabe que o Internacional vai também perder para o Cruzeiro no próximo domingo, desfavorecendo o Grêmio na pretensão de disputar a Libertadores no ano que vem.

Perfeito, ninguém discute o direito dos dirigentes colorados de decidir que vão perder para o São Paulo e para o Cruzeiro, com a finalidade de desfavorecer o Grêmio.

Ou seja, por esse deslize ético, os dirigentes colorados ficam impunes.

Já com o treinador Tite não acontece o mesmo. Ao participar da decisão de jogar com reservas e sem aptidão e vontade para ganhar contra o São Paulo e o Cruzeiro, para ralar o Grêmio, Tite fica impedido para sempre de treinar o Grêmio.

Quem participa obedientemente, ciosamente, desse desinteresse em ganhar de adversários decisivos do Grêmio, tanto para o título quanto, agora, para a Libertadores, não pode mais treinar o Grêmio.

Sinto, mas foi um risco calculado que o Tite correu.

Não vai amanhã ou depois o Tite treinar o Grêmio depois de ter integrado um consórcio que detalhadamente não ganhou de dois adversários do Grêmio em momento decisivo, por desinteresse ostensivo e objetivo deliberado de desfavorecer o Grêmio.

Se o Tite vir a treinar o Grêmio, juro que deixo de ser gremista.

Porque o Internacional, sob o comando de Tite, tinha o dever moral de esforçar-se para ganhar do São Paulo e do Cruzeiro.

Eu sei que foi decisão dos dirigentes do Internacional jogar assim sem vontade contra o São Paulo e o Cruzeiro. Não foi decisão do Tite.

Mas o Tite executou o plano. Então, para o Tite não tem nunca mais vaga no Grêmio.

Já tinha gente querendo ocupar minha coluna com direito de resposta caso o Grêmio fosse campeão, contra o meu pessimismo.

Não é pessimismo. Isso é consciência de que torço para um time muito ruim, que segundo a lógica só por um aborto da natureza pode ser campeão. E quase foi campeão o Grêmio, é incrível mas quase foi campeão, o que teria sido uma oferta generosa ao meu coração.

Mas um atentado violento contra o meu cérebro.

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