quinta-feira, 20 de novembro de 2008



20 de novembro de 2008
N° 15795 - LF VERISSIMO


Quantum of confusion

Tiveram o bom senso de manter o título do original, Quantum of Solance, no Brasil. Ninguém sabe o que quer dizer mas é a melhor coisa do filme.

O título e a cara do Daniel Craig, o primeiro James Bond com remorso e sem piadas, dão uma falsa gravidade ao que é apenas outra exibição de competência técnica, com os efeitos especiais e a montagem frenética ajudando a disfarçar a incoerência do enredo. Ninguém vai ver um filme do James Bond esperando enredo verossímil, claro, quanto mais ponderações profundas sobre a alma humana, mas o título prometia pelo menos algo mais inteligente.

Não sei se foi meu fastio com efeitos técnicos e violência tão fragmentada que na metade do tempo não se sabe quem está fazendo que barbaridade a quem, mas confesso que não me esforcei muito para entender a trama.

Tudo tem a ver com um mar secreto na Bolívia que o bandido quer pra ele, é isso? Como a ação pula da Itália para o Haiti, daí para a Áustria e depois para a Bolívia num curto espaço de tempo, fiquei pensando que admirável mesmo não era o nosso amargo herói sobreviver aos tiros e às explosões com apenas alguns arranhões, era agüentar as constantes mudanças de fuso horário sem tontear.

E como é que ele passava por todos aqueles aeroportos sem ter sua artilharia detectada pelo raio X? Mesmo o mais inverossímil precisa se dar o respeito.

Uma curiosidade. O agente 007 começou sua carreira no serviço secreto inglês, na literatura e no cinema no auge da Guerra Fria. Sua missão principal era combater a ameaça comunista. Mas, que eu me lembre, só num dos seus filmes, ainda interpretado pelo Sean Connery, Bond enfrentou agentes da União Soviética.

Em todos os outros filmes da série, Connery e todos os outros Bonds salvaram a humanidade de supervilões sem ideologia, empenhados em chantagear as grandes potências por lucro ou por um delírio de poder.

Ou enfrentaram a “Spectre”, uma organização assassina a serviço de quem pagasse melhor, que substituiu a “Smersh” dos livros de Ian Fleming, esta, sim, uma agência de contra-espionagem soviética.

A razão da troca, supostamente, era não agravar as relações já perigosas do Ocidente com os russos.

Mas o mesmo escrúpulo não é mantido no Quantum of Solance, em que a CIA aparece apoiando o supervilão de praxe para desestabilizar o governo, supostamente popular da Bolívia – um pseudo Evo Morales nunca identificado – deter o avanço da esquerda e proteger os interesses americanos na região.

O que os filmes do 007 nunca disseram da KGB e da “Smersh” dizem claramente da CIA, que merece todo o desdém que a grande Judi Dench, como “M”, chefe dos Bonds, wconsegue transmitir com um leve sorriso invertido.

Aguarde o próximo filme da série: 007 salva a humanidade e seu dinheiro de supervilões de Wall Street.

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