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sexta-feira, 21 de novembro de 2008
21 de novembro de 2008
N° 15796 - DAVID COIMBRA
Velhos mestres
Minha mãe era professora do Estado e brizolista. As duas condições se relacionavam. Brizola pagou salários bem fornidos aos professores, elevou a educação a prioridade número 1 e construiu 6.300 escolas.
Isso há 50 anos.
Nos governos seguintes, porém, os salários dos professores foram murchando. Até que minha mãe se viu num impasse. Amava lecionar e, pelas informações que tenho, fazia-o bem. Semana passada inclusive um sujeito pouco mais velho do que eu deteve-me na rua e disse:
– Tua mãe foi minha professora. Eu adorava as aulas dela!
Mesmo assim, para criar os três filhos ela precisou tomar uma decisão: abandonou o magistério e tomou outro rumo profissional.
Eu aqui segui como aluno de escolas públicas. Escolas de excelência. Um Julinho, um Piratini, um Becker eram colégios cobiçados até pelos filhos dos nababos. Escolas cuidadas com desvelo por professoras dedicadas – a exemplo do homem que me parou na rua, não esqueço de algumas.
Gilda, que me hipnotizava ao contar com paixão as histórias da História; Maria Antonieta, que me ensinou Português; Iria, que me fez aprender até, cruzcredo, geometria analítica; Paula, que, com seus olhos azuis fazia a química tornar-se menos inorgânica; e a dura mas justa diretora Dona Eunice. Mestras.
Quando completei o segundo grau, as greves do magistério estavam começando. De lá para cá, passaram-se quase três décadas. O que mudou? Os salários dos professores é que não.
Eles continuam ganhando mal. Dificilmente algum, sozinho, conseguirá sustentar três filhos com dignidade, como fez minha mãe. A situação da educação em geral, essa, sim, está diferente. Volta e meia vou a escolas para dar palestras ou ser entrevistado por alunos.
Nesta atividade, visitei muitos dos antigos e bons colégios da cidade. De todos saí melancólico. Os prédios estão depredados e sujos, e os professores, num triste reflexo da qualidade de ensino cadente, é difícil encontrar entre eles Gildas e Marias Antonietas e Donas Eunices.
A educação pública estadual está perto do fim, e muito me dói constatar isso, eu que sou filho de professora e cria do ensino público.
Ano que vem, as greves do magistério completarão 30 anos. De lá para cá, habitaram o Palácio Piratini governadores de todos os matizes ideológicos. Houve Simon, houve Olívio Dutra, houve Collares, houve Britto, houve Jair, há Yeda.
Todos ouviram as sinetas da greve batendo na Praça da Matriz. Resolveu? Pelo jeito, não. Neste caso, cabem duas perguntas que nada mais são do que precisamente isso: perguntas. Uma: será que o instrumento da greve está sendo bem utilizado?
Outra: será que não se precisa buscar novos caminhos para solucionar os problemas da educação pública? Gostaria que as pessoas pensassem sobre isso sem paixão. Gostaria de ouvir uma resposta que não fosse apaixonada.
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