Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 22 de novembro de 2008
23 de novembro de 2008
N° 15798 - PAULO SANT’ANA
Os camoatins
Eu não sei bem se o que sinto por minha infância é um trauma ou um deslumbramento.
Só sei que minha infância foi a época das minhas grandes descobertas.
Descobria tudo sozinho, sem a ajuda de ninguém. Desde a masturbação, a mais eletrizante de todas as descobertas, pela qual maravilhei-me com minha capacidade de arrancar prazer de meu próprio corpo, sem sequer imaginar que para a interação sexual era necessária uma parceira.
Só mais tarde, na adolescência, é que descobri a mulher no sexo, assim mesmo precariamente, nem eu nem minha primeira parceira tínhamos qualquer experiência em que nos basearmos e nosso desajeitado congresso carnal podia ser classificado como um rotundo desastre, até mesmo porque não tinha sido precedido de um namoro, de um romance, de beijos, nada de amor, não passamos de dois autômatos sem qualquer controle e, principalmente, sem qualquer objetivo definido.
Era mais gratificante e honesto voltar à masturbação.
Mas as descobertas na infância se sucediam, toda vez que o sol clareava as manhãs.
Lembro agora que meu primeiro meio de transporte foi o cipó, tipo vegetal que era abundante nas fraldas do Morro da Polícia. Passava horas e horas agarrado nos cipós, indo de uma árvore a outra árvore ou a um barranco.
O meu segundo meio de transporte foi uma prancha de madeira lixada que chamávamos de “regata”, em cima da qual nos atirávamos em uma pista muito inclinada de grama, deslizando até lá embaixo do lançante, uma delícia inesquecível.
Nunca tinha conhecido o automóvel nem a bicicleta, natural assim que me seduzisse a possibilidade de ser arremessado por algum objeto, através da velocidade, de um lugar para o outro.
Já tinham me falado do carrinho de lomba. Mas meu poder aquisitivo era zero e nunca tive vocação para o artesanato e para a mecânica, daí que desisti da ambição, até mesmo porque se tivesse um carrinho de lomba me faria falta o dinheiro para a passagem de bonde para transportá-lo até a Avenida Dom Pedro II, onde se realizavam as corridas ou o entretenimento.
O cipó e a “regata” já enchiam bastante de excitação as minhas tardes outonais e primaveris.
Outra grande descoberta foram as cachopas (não sei por que assim eram chamadas) de camoatins, uma espécie de marimbondo miúdo e negro que fabrica mel.
E com uma taquara comprida eu escarafunchava a cachopa, que caía em terra, sob alarma dos camoatins.
Com uma tocha acesa, afugentava as centenas de insetos de sua cachopa, sempre com medo dos ferrões.
E me adonava do mel, lambuzando-me. A todos os grande prazeres da infância éramos atraídos por sua gratuidade.
Até à carona clandestina no bonde.
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