sábado, 15 de novembro de 2008



16 de novembro de 2008
N° 15791 - PAULO SANT’ANA


Vida vivida

Benditos os que podem viver hoje para recordar amanhã.

Se eu tivesse que aconselhar os jovens, iria impeli-los a viver tudo o que podem, a amar, a divertir-se, a entreter-se em camaradagens, a impregnarem-se de aspirações, a sorver dia a dia, quanto mais o consigam, a vida em todas as suas delícias, senão pelo gozo do usufruto, quanto mais para que desfrutem mais tarde da riqueza das recordações.


***

O melhor da vida são os restos de amores, as cinzas das paixões catadas nas reminiscências.

Se eu tivesse de escolher os meus melhores momentos, eles se localizariam sem dúvida naqueles fins de tarde empolgantes em que começava a me preparar pelo banho e pela escolha da melhor roupa para aqueles encontros dançantes da juventude, onde iriam se decidir os melhores embates amorosos.

Ah, o amor. Quanto eu teimava em amá-lo como o fazem os jovens hoje quando se reúnem e embaralham seus sonhos com as paixões descompromissadas.

A juventude é o tempo feliz da vida pela ausência do compromisso.

A juventude é o tempo feliz da vida, embora o desconheçam isso os jovens, pelo exercício da liberdade.

E o que incrivelmente arrebata os jovens é que eles se atiram loucamente à perda da liberdade, ao compromisso.

O segredo da felicidade está em não conhecer-se o futuro, daí esse contentamento mágico das crianças.

Quando as pessoas passam a conhecer o seu futuro, a vida perde quase todo o encantamento.

Só se pode ser feliz quando se é dominado pela incerteza. A incerteza é o móvel da vida, a amiga da esperança, a tocha acesa do ideal.

Nunca mais voltarão os esperançados fins de tarde de sábado, quando tudo até a madrugada poderia acontecer.

Só pode ser feliz quem tiver aptidão para tal. Os jovens por exemplo, mas só enquanto forem aptos. Depois que realizarem seu sonho, tendem a ser menos felizes e mais incompletos.

O que é imprescindível é que nunca se deixe de ter ânsias.

A tolice consiste em saciar-se dos desejos e dos sonhos, daí que perde o sentido a vida quando a gente se encontra com o futuro.

Por isso é que, quando a vida se oferece inteira para nós, temos de vivê-la de maneira a que nunca nos esqueçamos do que estamos fazendo com ela.

É preciso que se viva de modo que tenhamos orgulho bem mais tarde do jeito que vivemos.

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