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quarta-feira, 19 de novembro de 2008
PAULO RABELLO DE CASTRO
Recessão, depressão ou deprimidos?
Ao lutar contra o ajuste sempre adiado, os atuais dirigentes encomendam mais recessão com inflação
MUITA GENTE boa acha que, sem medidas rápidas, o mundo pode cair numa depressão. O recém-agraciado Nobel em Economia, Paul Krugman, também acha. Em artigo, chama a situação atual de "economia da depressão". Seria aquela em que as medidas comuns de política econômica, como injetar liquidez nos mercados, para reanimar vendas, perderam eficácia.
A receita de Krugman é: o governo americano deve perder também o juízo e abrir o cofre, sem se preocupar com o déficit fiscal. E se a economia superaquecer em razão disso, então "o Fed poderá elevar as taxas de juros".
Qualquer um "é contra" a economia da depressão. E quem seria a favor? A questão, no entanto, se situa exatamente nesta dúvida: será que alcançaremos mais prosperidade apenas por adotar a negação do atual ajuste recessivo?
Mesmo sem admiti-lo, Krugman endossa a escola monetária de Alan Greenspan, que conseguiu aplainar quatro ajustes recessivos da economia americana durante sua longa gestão (1987-2005). No Fed, Greenspan convenceu seus pares a injetar uma quantidade trilionária de dólares "sem lastro" na economia. Minimizou os juros e endividou os pobres e a classe média nos EUA.
O resultado acumulado de tantas pedaladas macroeconômicas aí está: uma crise de dívida global sem precedentes, que vai dos EUA à China!
Krugman erra quando sugere a reincidência na liquidez exagerada e no rebaixamento de juros como fórmulas para sair da "economia da depressão". A economia mundial ainda está longe da deflação de preços dos anos 30.
A temida depressão poderá vir, sim, se as autoridades mundiais persistirem atuando contra o ajuste da economia real em vez de permitir as acomodações de valor dos ativos. Mesmo dolorosos, os ajustes de preços são essenciais.
Ben Bernanke e Henry Paulson, discípulos de Greenspan, e outros seguidores deste mundo afora não têm feito outra coisa senão injetar mais liquidez e baixar juros: no último mês, as operações de compra de títulos "micados" pelo Fed vêm ocorrendo ao ritmo alucinante de US$ 150 bilhões por semana.
Uma tragédia para a estabilidade monetária e fiscal dos EUA, na futura gestão Obama. A própria confiança no dólar está seriamente comprometida.
A onda a favor do dólar pode revirar amanhã, contra a moeda americana, sem aviso prévio. Geraria, então, a inflação "prevista" por Krugman. O Fed defenderia sua moeda com juros brutais. Aliás, o homem dos juros brutais -Paul Volcker- já está a postos...
Só que, distintamente do que afirma o Nobel em Economia, a inflação do dólar não viria em razão de qualquer "superaquecimento" da produção, mas por uma mistura cruel de estagnação da economia produtiva com inflação galopante.
Sabemos bem o que é isso.
A lição desta crise global é clara: ao lutar contra o ajuste sempre adiado, os atuais dirigentes políticos, aflitos e confusos, encomendam mais recessão com inflação, amanhã. Talvez até uma depressão esteja por vir, se a confiança nos regimes monetários finalmente se esgotar.
A crise da grande bolha de Wall Street diminuiu a estatura dos homens que a enfrentam. O generalismo e a falta de foco das propostas de combate à crise colecionadas pelo G20, na semana que passou, demonstram o grau de perplexidade, não só dos economistas, como das autoridades que se debruçam sobre a "genética" dessa doença.
Como areia movediça, quanto mais nos debatermos, mais rápido afundaremos.
PAULO RABELLO DE CASTRO, 59, doutor em economia pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos.
Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio-SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
paulo@rcconsultores.com.br
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