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sábado, 15 de novembro de 2008
Rodrigo Cardoso e Carina Rabelo
Elas estão traindo mais
Na geração até 25 anos, metade das mulheres assume que já foi infiel e o ambiente de trabalho é o local que mais favorece as escapadas
INSATISFEITA CARLA TRAIU O MARIDO PORQUE ESTAVA INFELIZ COM SUA VIDA SEXUAL
Fim do expediente. Ela recolhe a papelada da mesa, desliga o computador e sai com a nécessaire a tiracolo em direção ao banheiro. Lá, do alto de seu 1,78 metro, ajeita a meiacalça antes de caminhar sem pressa para a frente do espelho.
De olhos bem abertos, começa conferindo um tom mais vivo às bochechas alvas e termina escovando os cabelos castanho-claros até quase a cintura. Faltava apenas o batom, que ela sacou da bolsa e calmamente deslizou apenas no lábio inferior, que, por compressão, tingiu o superior.
Do lado de fora da empresa, o rapaz que a aguarda dentro do carro vê a hora no relógio e examina o movimento ao redor antes de checar o penteado no retrovisor. Tudo pronto, ela dá o passo final com uma mensagem enviada pelo celular, enquanto desce as escadas: "Oi, amor, vou entrar em uma reunião aqui no trabalho e chegarei mais tarde em casa."
O que há de novo no comportamento feminino descrito acima? Não é a mulher protagonizar uma história de infidelidade. Clássicos da literatura, como Anna Karenina, de Tolstoi, e Madame Bovary, de Flaubert, provam que o comportamento é antigo.
A novidade, segundo especialistas, é o fato de a traição praticada por elas estar cada vez mais freqüente - e não se revelar apenas no divã do terapeuta. Dados inéditos do estudo Mosaico Brasil 2008, coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade (ProSex) da USP, revelam que cada vez mais as brasileiras pulam a cerca.
Foram ouvidas 8.200 pessoas em dez capitais (leia quadro à pág. 70). Basta um olhar sobre três gerações para ficar claro que o padrão de infidelidade delas vem se modificando. Das entrevistadas acima de 70 anos, apenas 22% confessaram ter tido alguma relação extraconjugal.
O índice sobe para 34,7% para as mulheres entre 41 e 50 anos e atinge o pico de 49,5% entre as de 18 a 25 anos. "A traição masculina ainda é maior, mas está estável. Já a praticada pela mulher tem crescido", afirma Carmita, autora de Descobrimento sexual do Brasil. Nos consultórios, a sensação é a mesma.
Especialista em relacionamento amoroso, o psicólogo Aílton Amélio da Silva, da USP, vai ainda mais longe. Para ele, a brasileira trai pouco. "As oportunidades aparecem diariamente e encontram- se pessoas bonitas o tempo inteiro", diz ele, autor do livro Para viver um grande amor. "Mas, se antigamente havia uma agulha no palheiro, hoje, com certeza, há três."
Não é à toa que o jardim do vizinho tem parecido mais interessante aos olhos do sexo feminino. O cenário atual é amplamente favorável e a liberação sexual atingiu um patamar único na história, com maridos apavorados queixando-se para o terapeuta que a esposa quer manter relações sexuais todo dia.
"Eu não tinha mais sexo em casa. Meu marido não dava conta", diz a gerente de banco paulista Carla* (*nomes fictícios), de 27 anos, que foi casada por cinco anos.
Ela trocou o marido pelo amante depois de passar dois anos mantendo um relacionamento extraconjugal. "Fiquei carente e com quem vou conversar? Com o cara que eu via todo dia: passei a me relacionar com o dono do restaurante onde eu almoçava", conta.
Especialistas no assunto afirmam que, à luz da percepção social, compreendem-se mais as escapadas femininas, apesar de o machismo ainda imperar. Não são poucos os casos em que a Justiça brasileira determinou o pagamento de uma quantia em dinheiro, como dano moral, para homens que provam ter sido traídos.
"As pessoas estão mais corajosas para tomar atitudes. A separação é uma penalidade do adultério. O dano moral é quando o adultério expõe o outro ao vexame, à hostilidade pública e ao desrespeito", explica a advogada carioca Tânia Pereira da Silva, professora da Uerj e membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam).
Há uma reviravolta histórica a se considerar também. Se antes à mulher cabia o dever de se entregar a um único homem e passar o tempo cuidando dos filhos e do lar, hoje o quadro é outro.
Houve uma queda significativa da taxa de natalidade, conquistada principalmente com a chegada dos anticoncepcionais, e a mulher, livre das amarras domésticas, optou por passar mais tempo nos escritórios e em viagens de trabalho ao lado de outros homens.
Estar em contato com o sexo oposto a maior parte do dia pode ser como riscar um fósforo ao lado de uma bomba de gasolina. É o que mostra uma pesquisa feita pela sexóloga americana Shere Hite. Segundo ela, 60% das pessoas que trabalham juntas já tiveram um envolvimento amoroso entre si.
Foi assim que a diretora de mar keting carioca Amanda* traiu o marido. "Fiquei com um amigo que trabalhava comigo na festa de final de ano da empresa, em uma boate. Cheguei em casa e meu marido estava dormindo. Deitei ao seu lado e ele nunca desconfiou", diz ela.
Com oito anos de relacionamento - metade deles casada -, a diretora de marketing pediu a separação poucos meses depois de ir para a cama com o colega de trabalho.
Antes do rompimento, encarava cada vez mais horas extras e saía com amigas com freqüência para não ter de voltar logo para casa. "Meu casamento já não tinha mais sentido", justifica Amanda, hoje, aos 39 anos.
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