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quarta-feira, 26 de novembro de 2008
RUY CASTRO
Lévi-Strauss a dois
RIO DE JANEIRO - Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês, está fazendo 100 anos. Em 1935, ele era um jovem marxista com uma visão mecânica da vida, como tantos. Mas veio para o Brasil, embrenhou-se no mato com os nossos bororos e nambiquaras, comeu do cru e do cozido, e isso abalou suas certezas.
Em 1955, a experiência rendeu-lhe um livro, "Tristes Trópicos". Nos anos 50, Lévi-Strauss já acusava o homem de ser o vilão da ecologia, quando os dicionários ainda não tinham chegado a um acordo nem sobre o significado da palavra.
Contrariando o espírito da época, também nunca aceitou a idéia de que, com a alfabetização em massa, o progresso da humanidade seria fatal -quem éramos nós para sair alfabetizando populações que viviam tão bem sem o alfabeto?
Por defender a necessidade de preservar as identidades étnicas e culturais, combateu a idéia da globalização ainda no berço.
Para ele, a globalização conduziria à uniformização, à anulação das diferenças -e o fim das diferenças levaria à indiferença, que é uma das piores pragas que poderiam nos afligir. Pois é o que está acontecendo, e bem que ele avisou.
Minha geração tem vários motivos para ser grata a Lévi-Strauss. Em 1968, um pretexto infalível para um rapaz e uma moça se encontrarem era ler e discutir o último livro do autor da moda.
Eram grandes noites, que, de fato, começavam pela leitura de um capítulo do livro, geralmente o primeiro. Mas nunca se chegava ao segundo.
Naquele ano, o campeão disparado de tais leituras era "Eros e Civilização", de Herbert Marcuse. Mas, então, "Tristes Trópicos" saiu no Brasil, e Lévi-Strauss tomou-lhe o lugar.
Eu tinha 20 anos, morava no Solar da Fossa, em Botafogo, e era incrível como não se passava uma noite sem uma discussão a dois sobre Lévi-Strauss.
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