sábado, 15 de novembro de 2008



16 de novembro de 2008
N° 15791 - DAVID COIMBRA


Foi-se a virgindade do Careca

O Careca perdeu a virgindade na praia. Capão da Canoa. Um amigo havia cometido a temeridade de nos emprestar a casa dos pais dele e de repente alguém apareceu com um cardume de meninas conhecidas de Porto Alegre e em meia hora estávamos todos bebendo e dançando e cantando, a vida é boa.

Uma das meninas era uma morena pequena, mas de corpo bem esculpido, bons seios, boas pernas. Definitivamente boas pernas. O cabelo dela era preto e cortado curto e ela usava um shortinho.

O Plisnou já tinha meio que se embretado com aquela mina antes, que sei. E o Sérgio Anão também. E, se não me engano, o Amilton Cavalo. Talvez até o Jorge Barnabé. Enfim. Tratava-se de uma moça experiente, ao contrário do nosso amigo.

Bem. Lá estava ela, sentada no braço de um sofá, as pernas reluzentes cruzadas com indolência, o pé número 35 balançando com a Hawaiana pendurada na ponta do dedo. A folhas tantas, a festa, por algum motivo, amainou. Criou-se uma brecha de silêncio, ficamos parados, quietos. Aí aconteceu.

O Careca, numa ponta da sala, olhou para a morena na outra ponta. Ela olhou para ele. Todos acompanhamos a cena. Eles se olhavam e se olhavam, tanto e tão intensamente, que se instaurou certa tensão no ambiente. Algo ia acontecer, era certo.

Então ela se levantou. Ante nossos olhos atônitos, ondulou sem pressa e sem hesitação diretamente para o Careca. O recheio daquele shortinho dela ia para lá e para cá, para lá e para cá, e a malícia lhe molhava o olhar.

O Careca esperava, paralisado, a ponta da língua surgindo rosada entre os dentes. A morena chegou perto dele e, sem nada dizer, tomou-lhe a mão e conduziu-o em silêncio pelo corredor, casa adentro, reto para o quarto de casal. Trancaram-se lá e lá permaneceram por dois dias inteiros.

Durante esse tempo, nós jogamos bola, fomos à praia, saímos, fizemos de tudo, sem nunca esquecer o caso do Careca, sempre nos perguntando o que estaria acontecendo dentro do quarto. Afinal, o Careca era virgem como uma bandeirante. Como estaria se saindo com aquela devoradora de homens?

Quando ele finalmente emergiu da alcova, corremos a interrogá-lo. E aí? Como foi? O Careca sorriu de lado, cheio de confiança.

– Dei um show – disse. – Graças a uma técnica que usei...

Show? Técnica? Não era possível aquilo de o Careca dar shows com técnicas.

– Que técnica, Careca? – perguntei.

Ele explicou, e o que disse é o que me levou a contar essa história:

– Trabalhei o umbigo dela durante quarenta minutos. Alisei, lambi, mordi, suguei e soprei o umbigo dela por quarenta minutos sem parar. Ela enlouqueceu.

Não acreditei. Não acredito. Porque um umbigo não tem tanta sensibilidade. O umbigo é um nó, entende? A criança nasce e o médico vai lá, corta o umbigo, dá um nó na ponta restante e coloca para dentro da barriga. Pronto.

Um nó, tão-somente. E o fato de ser um nó deveria servir-nos de alerta eterno. Porque nós desatam! O que aconteceria se o nó do umbigo desatasse? As entranhas borbulhariam barriga afora!

Meu amigo Careca correu tal risco, manipulando o umbigo da moreninha por tanto tempo. Quarenta minutos mexendo num umbigo, francamente.

O umbigo, com seu frágil nó, existe para que sejamos humildes, para que não nos alcemos, por exemplo, à arrogância de achar que as vitórias estão asseguradas antes das partidas, o que poderia ser um aviso à Dupla Gre-Nal neste fim de ano.

O umbigo é perigoso porque pode ser desamarrado. Qualquer nó pode. Assim como qualquer time pode ser derrotado para qualquer adversário.

Mas, se o umbigo não servir de advertência, pense nas outras ameaças. Há ameaças a mancheias. Como as tampas dos bueiros – um dia elas cairão. E alguém estará em cima, e não serei eu, que não piso em tampas de bueiros cadentes.

Há também os ventiladores de teto. Como pode alguém dormir tranqüilo com aquelas pás afiadas rodando sobre sua cabeça? Há os hackers que entram na nossa conta bancária pelo computador e nos roubam o salário. E há o pior deles: o espirro.

Porque li em algum lugar que a propulsão do espirro é tamanha que, se não fechássemos as pálpebras ao espirrar, os olhos saltariam para fora das órbitas!

Já imaginou você espirrando e os olhos rolando pelo chão??? O mundo é um perigo. É preciso estar sempre atento.

Nenhum comentário: