quinta-feira, 20 de novembro de 2008


JANIO DE FREITAS

A zonzeira

Na barafunda da Satiagraha, notícias novas e repescadas pipocam sem futuro, sem lógica e sem filiação ao todo

JORNALISTAS e sua habitual vítima, a opinião pública, estão zonzos na barafunda composta pela Operação Satiagraha e o que dela derivou.

Interesses funcionais, políticos e pessoais emaranharam-se em tal medida com verdades, mentiras, equívocos, seriedade, trapaças, ilegalidades e disputas, que a percepção dos nexos entre entre esses fatores e fatos não é alcançada pelo jornalismo -em parte, sim, por algumas deficiências suas, uma certa carência de profissionalismo.

E, dia a dia, as notícias novas e as repescadas com nova maquiagem pipocam sem futuro, sem lógica e sem filiação a um todo.

Polícia Federal, Abin, Supremo Tribunal Federal, Planalto, Protógenes Queiroz e outros delegados, Daniel Dantas e sua defesa, o juiz Fausto De Sanctis e os motivos de sua notoriedade, tudo isso monta uma quantidade de ramais que, digna da embrulhada que foi a própria Satiagraha, é mais prolixa do que foram as linhas a combinar no caso Collor.

Ainda que, no caso atual, menos ampliada e deformada pelo sensacionalismo imaginativo, tipo escândalo dos jardins e casa da Dinda. Mas, escasso o sensacionalismo, os próprios personagens de agora se aplicam em aumentar o emaranhado.

Aí está, por intermédio do corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Gilson Dipp, a denúncia de que há 11.846 telefones sob interceptação com ordem judicial, em contraposição à enxurrada previsível a partir dos 375 mil, em 2007, citados pela CPI das Escutas Telefônicas.

A notícia é eficiente como defesa do Judiciário, por certo. Quanto ao problema das escutas, porém, só aumenta a confusão. O dado que está na CPI foi proporcionado pelas telefônicas, como levantamento das ordens judiciais de interceptação que receberam no ano passado.

Além disso, a captação de dados no conselho não inclui regionais importantes do Judiciário e baseia-se na duvidosa atualização de estatísticas judiciárias.

Não seria o caso, constatada a disparidade e à margem de utilidades daqui ou dali, de pesquisar a sua causa, para chegar ao número seguro e necessário a eventuais providências? É possível até, entre outras causas, a existência de um comércio de autorizações judiciais falsas.

Ou de introdução fraudulenta de telefones em autorizações verdadeiras, como já ocorreu em Salvador. Em vez de tais pesquisas, a barafunda Satiagraha ganhou mais um ingrediente com outra confrontação de Judiciário e Câmara ou sua CPI.

Delegados da PF ainda não ofereceram esclarecimento algum, com tantas obscuridades à disposição, mas não faltam com colaborações para o clima crítico. Agora, na ausência de melhor defesa, adotam a tolice de que o espanto e a reprovação causados a partir da PF são obra do crime organizado e adjacências.

É o próprio diretor-geral da PF quem o diz, relacionando as críticas e o "pleno funcionamento" da polícia sob sua direção: "Talvez alguns não queiram uma polícia nesse estilo".

Alguns, não. Ninguém quer uma polícia que transforme um inquérito, tudo indica que necessário, em tanta confusão, a começar das irregularidades, exorbitâncias ilegais, brigas e disputas grupais de poder dentro mesmo da polícia.

Amanhã, mais capítulos novos e outros apenas com indumentária atualizada.

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