segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Homens que amam demais
Por Layla Marques

Eles são humilhados, se culpam e sofrem, mas sempre justificam as atitudes de suas amadas. Na maioria das vezes, vêm de famílias destrutivas e acreditam que essas mulheres possam amá-los um dia

Amar não é errado! O amor apazigua, tranqüiliza e proporciona uma entrega solta, sem cobranças entre o casal. Mas e quando esse amor se torna excessivo a ponto de fazer você esquecer de si mesma?

Cuidado, ele pode virar um tormento e até uma doença. Mas dessa vez não vamos falar de você, mulher sensível que às vezes ama demais. E sim deles, dos ditos machões e insensíveis: os homens.

Machão e insensível, certo? Errado! Ele pode até ter aquela pinta de durão, do tipo que se esquiva de qualquer palavra amorosa, mas esse tipo de homem ama sim, e ama muito. Para a especialista em comportamento humano e autora do livro Homens que amam demais, Tatiana Ades, eles tendem a se envolver mais que as mulheres.

De acordo com a pesquisa que fiz, com os homens que amam demais, entre 30 e 35 anos, eles são muito mais dependentes afetivamente, que sexualmente. A partir daí achei importante discutir o tema”, diz ela.

Como a maioria dos homens é vista pela sociedade como compulsiva por sexo e não por amor, e como também só existem grupos de ajuda para mulheres, já estava mais do que na hora de falar sobre o assunto, não é mesmo?

“Senti a necessidade do tema quando vivi isso. Tive um namorado ‘Hades’ – deus grego do mundo dos mortos que, por amor, raptou sua amada Perséfone. Percebi que fui co-dependente dele, compartilhando todas as suas paranóias”, conta Tatiana.

Quem são os Homens que Amam Demais?

Geralmente, eles vêm de um contexto familiar destrutivo. Os pontos principais destacados pela autora é o relacionamento simbiótico com a mãe (ou ela é muito próxima ou muito ausente), os pais normalmente são alcoólatras e, de algum modo, os homens que amam demais sofreram violência doméstica, tanto fisíca quanto verbal.

Segundo ela, eles trasportam essas frustações para a vida e repetem a história. “Quando realizei as entrevistas, desmembrei suas vidas, chegando até sua infância. Percebi que muitos deles repetem os padrões de comportamento de sua família, o que afeta bastante seus relacionamentos hoje”, conta.

Outras caracteríticas:

*Na visão dele, ela é sempre a vítima. Tudo que acontece de errado no relacionamento ele se culpa

*Ele quer tanto a aprovação dela que, mesmo sofrendo muito, abre mão de suas vontades para satisfazer as dela

*Ele começa a viver em função da amada, vasculha tudo e corre um sério risco de estar caindo na cilada do ciúmes excessivo

*Ele tem auto-estima muito baixa, por isso não se dá valor e deixa com que essa situação permaneça

Eles são humilhados, se culpam e sofrem, mas sempre justificam as atitudes de suas amadas. Na maioria das vezes, vêm de famílias destrutivas e acreditam que essas mulheres possam amá-los um dia

*Quem aconselha se torna um inimigo, é como se destruísse algo saudável. Na visão do homem que ama demais, o relacionamento dele é normal porque ele sempre vai viver na expectativa de que a situação melhore

* Ele pode se considerar um homem que ama demais quando o amor for sinônimo de sofrimento

*Porque ele a ama muito, não liga de ser humilhado e sempre justifica as atitudes de sua amada.

Este último, o ser humilhado a todo tempo por ela, Tatiana Ades chama de “cegueira emocional”. É como se esse amor obsessivo estivesse mais do que claro, mas ele insiste em não querer ver.

“É muito triste quando você percebe o amor doentio. O casal não aproveita o melhor desse sentimento e corre grande risco de se separar”, explica Tatiana.

E completa: “Para se ter uma idéia, quando um ‘Hades’ se separa da amada ele tem os mesmos sintomas de uma pessoa que está em abstinência de cocaína: tremores, vômitos e até síndrome do pânico”.

A seguir, as Doze Promessas do CoDA (Co-dependentes Anônimos), grupo que busca ajudar homens e mulheres a desenvolver um relacionamento saudável, que com certeza te ajudarão bastante a se amar primeiro:

1- Reconheço que não estou só e que meus sentimentos de vazio e solidão vão desaparecer

2- Não sou controlado por meus medos. Eu supero meus medos e ajo com coragem, integridade e dignidade

3- Experimento uma nova liberdade

4- Liberto-me da preocupação, da culpa e da lamentação quanto ao meu passado e ao presente. Eu me mantenho o suficientemente atento para não repetir

5- Experimento um novo amor e uma nova aceitação por mim mesmo e pelos demais. Eu me sinto genuinamente merecedor de ser amado

6- Aprendo a me ver igualmente aos demais. Em minhas novas e renovadas relações são baseadas na igualdade de ambas as partes

7- Sou capaz de desenvolver e manter relações saudáveis e amorosas. A necessidade de controlar e manipular os outros desaparecerá na medida em que eu aprenda a confiar nas pessoas dignas de confiança

8- Aprendo que é possível recuperar-me e converter-me numa pessoa mais amorosa, mais íntima e capaz de oferecer apoio apropriado. Eu tenho a escolha de comunicar-me com minha família de uma maneira segura para mim e respeitosa para eles

9- Reconheço que eu sou uma criação única e preciosa

10- Não dependo unicamente dos demais para poder me sentir valioso

11- Tenho a confiança de que meu Poder Superior me guia. E venho a acreditar em minhas próprias capacidades

Dica esperta: Identificou o amor excessivo? Então procure um apoio profissional. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC da FMUSP), por exemplo, oferece terapia para os dependentes de amor. Vale a pena procurar!

Nenhum comentário: