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sábado, 22 de novembro de 2008
22 de novembro de 2008
N° 15797 - MOACYR SCLIAR
Crise e antidepressivos
Será um efeito da crise financeira que abala o mundo? Segundo o jornal The Times, da Índia, nos últimos 12 meses a venda de drogas antidepressivas aumentou 8% naquele emergente país asiático. Em Mumbai, o grande centro financeiro da Índia, o aumento foi ainda maior, chegando a 30%.
Não se trata de uma exceção. Os antidepressivos estão sendo mais e mais consumidos no mundo todo, indo de 4 bilhões de unidades (embalagens diversas) vendidas, em 1995, para 10 bilhões, em 2004, um aumento de 150%. No Brasil também se registrou um salto.
A venda de antidepressivos em farmácias e drogarias brasileiras cresceu 42% de 2003 a 2007, mostra levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há cinco anos, eram comercializados 17 milhões de unidades. Em 2007, foram 24 milhões. E o número de 2008 tende a ser maior: os registros de janeiro a julho somam 15 milhões de unidades.
A depressão é o problema mental mais freqüente em nosso tempo (afetando de 10% a 20% das pessoas) e, certamente, o mais temido. Na competitiva, e às vezes frenética, economia de mercado, o deprimido larga atrás; ao contrário do maníaco, que se situa no pólo oposto, ele é prejudicado pelo desânimo, pela falta de iniciativa.
Resultado: as pessoas não querem nem ouvir falar nisto. Mesmo quando não existe depressão, mas sim a tristeza normal resultante da perda de uma pessoa querida ou de uma separação conjugal, insistem com o médico para que lhes receite o medicamento. É a velha idéia da “pílula mágica”, que resolverá quimicamente todos os problemas.
E a verdade é que os antidepressivos, dos quais existem 130 produtos no mercado, realmente funcionam e ajudam as pessoas a sair de uma situação penosa e incapacitante; mas têm seus efeitos secundários, e por isso devem ser usados com cuidado.
Além disso, tristeza faz parte da vida; são momentos em que reavaliamos a nossa trajetória, em que podemos tomar decisões importantes.
Voltando à crise, uma pergunta que a gente pode fazer é se ela não tem parte de suas raízes na conjuntura bipolar em que vivemos e que durante muito tempo manifestou-se por uma euforia que pode em parte ter sido estimulada pelos medicamentos.
Resultou daí a “exuberância irracional” de que falava Allan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, o banco central americano (contra a qual, aliás, ele não fez nada, além de alertar).
As pessoas compravam doidamente e o exemplo maior disso foi a bolha imobiliária americana, que antidepressivo algum poderia manter inflada e que acabou estourando.
Na Índia, os médicos não têm dúvidas em ligar a venda de drogas antidepressão à queda das bolsas: curvas inversas e especulares.
Diz o psiquiatra hindu dr. Samir Parikh: “As perdas financeiras, a perda do emprego dão uma sensação de desamparo, levam à queda da auto-estima. Daí o recurso do remédio”.
Ou seja: pelo menos alguém se beneficia da crise: os fabricantes de antidepressivos.
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