quinta-feira, 27 de novembro de 2008



27 de novembro de 2008
N° 15802 - LETICIA WIERZCHOWSKI


Quem está matando nossos filhos?

Publicada no dia 12 de novembro na coluna do Sant’Ana, a carta de Themis Krumenauer (mãe do melhor amigo do jovem assassinado no Cristal) não saiu da minha cabeça. Também sou mãe, impossível não chorar durante a leitura. E me pergunto: o que estamos fazendo aqui?

Será que não devemos ir embora para um lugar onde as pessoas possam andar pelas ruas com tranqüilidade, estacionar seus carros; enfim, viver decentemente? Ou, corrigindo a pergunta e me colocando como parte desta equação: o que estamos fazendo com isto aqui? Com este país que um dia foi uma promessa?

Nossos jovens vem morrendo ao som do mar e à luz do céu profundo, enquanto pagamos uma das mais altas alíquotas de impostos do mundo. O nosso povo não tem escolas, nem médicos, nem corpo policial decente. Quando nos uniremos num gesto drástico?

Quando deixaremos de pagar esses impostos, cuja arrecadação altíssima não vem somar à sociedade, mas escoa dos cofres públicos para paraísos fiscais, enquanto nossos filhos não podem andar na rua, enquanto outras mães têm os filhos perdidos para o tráfico?

Em sua carta, a sra. Krumenauer cogita se a mãe do assassino conhece bem o filho, e se sabe do que ele é capaz. Ouso responder: talvez ele nunca tenha tido uma mãe.

Se teve, a palavra mãe não guarda o mesmo significado que tem para nós – provavelmente foi mais uma adolescente grávida pelas ruas, uma criança que gerou outra, ambos esquecidos pelo Estado.

O que vivemos hoje não começou há 18 anos, nem há de terminar no ano que vem. Será necessário muita comida em muita mesa por aí, escolas, policiais e professores bem treinados para que tragédias como essa parem de ceifar a vida dos nossos filhos.

Quando começaremos, sociedade e governo (que recolhe nossos impostos para isso), a sanar essa situação? Meu marido cresceu no Cristal. Por anos trilhou essa rua na qual um jovem foi morto por causa de um skate, e dela só guarda boas lembranças.

Daqui a dez anos, como viverão nossos filhos? Morre-se todos os dias nas nossas esquinas por causa de um par de tênis, de um carro, por causa das drogas.

A nossa juventude vem morrendo dos dois lados da trincheira por baixo da qual escorrem nossos impostos, enquanto o presidente, os governadores, prefeitos e chefes disso e daquilo andam por aí,

em cerimônias e entrevistas, apertando-se as mãos mutuamente, galhardos, eufóricos e sorridentes, e numa ruazinha das centenas de milhares de ruas brasileiras, mais um jovem acaba de perder a vida nessa guerra cotidiana.

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