quinta-feira, 20 de novembro de 2008



20 de novembro de 2008
N° 15795A - RICARDO SILVESTRIN


Procedência

Ouvi duas vezes, em menos de uma semana, a música Querência Amada, do Teixeirinha. Uma vez foi na voz de um cantor na Feira do Livro de Porto Alegre. A interpretação era com violão e no ritmo e roupagem originais. A segunda, no CD Ninguém é Perfeito, do roqueiro Charles Master. Um arranjo com banda de rock e sotaque porto-alegrense.

Para ambos os cantores, de alguma forma, fez sentido dizer os versos “quem quiser saber quem sou / olha para o céu azul / e grita junto comigo / viva o Rio Grande do Sul / o lenço identifica / qual a minha procedência”.

E também “Deus é gaúcho / de espora e mango / foi maragato ou foi chimango / querência amada / meu céu de anil / este Rio Grande gigante / mais uma estrela brilhante / da bandeira do Brasil”.

É claro que o ruído entre o rock e o regional dá uma ambigüidade a mais para o texto. Soa como afirmação de uma “procedência” num ambiente de ampliação do regional para o mundo urbano, contracultural. Já no cantor da Feira, não havia dois mundos, duas leituras. Era o gaúcho que ama sua terra sem contradições.

Quanto a mim, nascido em Porto Alegre, nada identificado com a afirmação excessiva de um regionalismo, pois gosto do Brasil como um todo, sublinhei, enquanto ouvia na Feira, os versos em que a letra dizia “Oh! meu Rio Grande / de encantos mil / disposto a tudo / pelo Brasil” e também a imagem final de ser mais uma estrela brilhante na nossa bandeira.

Pensei em como o Teixeirinha valoriza o seu Estado natal sem cair num separatismo, numa hostilidade ao Brasil.

É claro que isso tudo tem raízes históricas e míticas. Está ligado à construção de uma identidade baseada tanto em acontecimentos reais quanto em construções de ideologia.

No futebol, várias vezes me pego querendo derrotar os paulistas e cariocas na base da raça, da bravura, desse nosso estilo portenho. Mas daí a querer desprezar o samba carioca, a inquietação estética dos paulistas, a sabedoria dos baianos, para mim é demais.

Sempre que viajo a vários lugares do Brasil, descubro mais gente legal. Manaus, Brasília, Curitiba, Floripa... Prefiro pensar como o Teixeirinha em conviver com todas as estrelas da bandeira.

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