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sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Wang discute globalização em longas de pouca
"Mil Anos de Orações" e "A Princesa do Nebraska" são lançados simultaneamente
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Saudado com excesso de entusiasmo nos anos 90, graças à dobradinha com Paul Auster que resultou em "Cortina de Fumaça" e "Sem Fôlego", Wayne Wang volta a chamar a atenção com dois novos títulos que se completam como o yin e o yang, após uma década de longas esquecíveis.
Nascido em Hong Kong e com filmografia realizada nos EUA, Wang reproduz esse tipo de identidade dupla em seu cinema, mas sem se equiparar ao nível de Ang Lee, diretor com percurso semelhante.
A duplicidade é também o sinal que acompanha cada passo de "Mil Anos de Orações" e "A Princesa do Nebraska", a começar da bilheteria, onde o espectador tem de se perguntar qual dos dois títulos escolher ou, se decidir ver ambos, por qual deles começar, já que estão em cartaz nas mesmas salas em horários intercalados.
Ambos partem de uma mesma cena: um indivíduo de origem chinesa procura, no saguão de um aeroporto, um contato amigável em sua chegada.
O que há de comum entre eles é o desenraizamento, a experiência de um passado que ficou para trás, mas ainda atuante.
O senhor Shi de "Mil Anos de Orações" carrega o lenço vermelho, marca de seu vínculo com o Exército e resíduo de fidelidade a ideais comunistas de outros tempos.
Por sua vez, Sasha, de "A Princesa de Nebraska", carrega no ventre um bebê, vínculo com uma paixão que ficou na China e com quem prolonga laços por torpedos e vídeos feitos em seu celular.
"Mil Anos de Orações" está ajustado a seu protagonista mais velho, cujas tribulações o filme narra de um modo calmo.
Já o inquieto percurso da jovem Sasha é mostrado com tiques modernosos, como câmera na mão, edição nervosinha e ritmo desatento de YouTube.
Shi encontra-se fora de seu espaço e de seu tempo, isolado da cultura americana até por conta da língua que não domina. Já Sasha não encontra acolhida no grupo de garotas de sua idade nem entre os afáveis sino-americanos que a recebem numa festa.
Ambos estão cindidos, como um dos efeitos da globalização na qual se pensa que todos nos tornamos integráveis a qualquer lugar, o que equivale a lugar nenhum.
Ao contrário de seus personagens, porém, que sofrem com a indeterminação, o estilo camaleônico de um filme ao outro nos faz indagarmos se os títulos revelam Wang como um artista com habilidade para assumir múltiplas facetas ou de alguém com assinatura, mas sem personalidade alguma.
MIL ANOS DE ORAÇÕES e A PRINCESA DO NEBRASKA
Produção: EUA, 2007
Direção: Wayne Wang
Com: Faye Yu, Henry O, Li Ling
Onde: a partir de hoje no Cinesesc e Reserva Cultural 2
Classificação: livre ("Mil Anos...'); não indicado a menores de 14 anos ("A Princesa...")
Avaliação: regular
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