segunda-feira, 24 de novembro de 2008


MOACYR SCLIAR

O professor do desejo

Nas aulas práticas, os alunos treinariam diferentes técnicas, que seriam devidamente registradas em vídeo

Ex-ator e ex-produtor de pornochanchada dá aulas de sexo. O ex-ator e ex-produtor de pornochanchadas Dorival Coutinho montou uma escola em que pretendia formar novos alunos pornôs, mas a maior procura foi de homens que querem melhorar o desempenho na cama.

Cotidiano, 19 de novembro de 2008

QUANDO LEU A NOTÍCIA sobre o curso de sexo, seu coração se acelerou: ali estava a oportunidade que vinha buscando há muito tempo.

Aquilo representava, por várias razões, o sonho de sua vida. Em primeiro lugar, porque era, ele próprio, professor universitário de formação, especializado em organizar cursos e treinamentos.

Claro, curso de sexo era algo inusitado, mas nada impedia que o formato fosse semelhante ao de tantos outros cursos. Um carga horária, por exemplo (nada menos que 60 horas: só a prática leva à perfeição).

Diferentes disciplinas: "Carícias preliminares", "Posições", "Iniciação às perversões". O curso abrangeria aulas teóricas e práticas.

Nas primeiras, os alunos deveriam ler e discutir obras clássicas: o "Kama Sutra", os livros do marquês de Sade e outros. Ah, sim, e assistiriam a numerosos filmes, eróticos e pornôs. Teriam de passar por uma avaliação prévia, semelhante àquela feita no famoso relatório Kinsey, realizado nos Estados Unidos.

Tal avaliação estaria a cargo de profissionais do sexo, devidamente treinadas, e que enquadrariam os candidatos em diferentes categorias: "fracasso grotesco", "sofrível", "muito bom" e "sublime".

Nas aulas práticas, os alunos treinariam diferentes técnicas, que seriam devidamente registradas em vídeo e depois analisadas. Um convênio com uma produtora de filmes pornôs poderia ser uma fonte adicional de renda para a escola, mas isso ficaria para depois.

Encerrado o treinamento, os formandos receberiam certificados que poderiam mostrar às esposas e namoradas e que representariam uma credencial no crescente mercado do sexo explícito.

Havia mais duas razões pelas quais o curso o interessava. Em primeiro lugar era, ele próprio, um atleta do sexo, de cujas qualidades centenas de mulheres (512 para ser mais exato; tinha disso um minucioso registro) podiam dar testemunho.

Ou seja, estava em condições de não apenas doutrinar os alunos mas também de mostrar-lhes ao vivo e a cores como fazer amor com uma mulher.

Por último, mas não menos importante, estava desempregado -a faculdade particular em que trabalhava acabara de demiti-lo, exatamente por ter ele se envolvido com uma aluna- e precisava urgente de grana, sobretudo diante da crise que se avizinhava.
Concluída a elaboração do projeto, depois tratou de divulgá-lo, através da Internet e também de discretos anúncios em jornal.

A demanda excedeu de longe as suas expectativas, e logo teve de recusar inscrições. A namorada (ou seja, a ex-aluna) com quem agora estava vivendo, vibrou com a notícia: estava cansada de passar necessidade. Resolveram celebrar com uma orgia monumental.

E aí veio a surpresa, a chocante surpresa. Na cama, e pela primeira vez em sua vida, ele fracassou. A moça tentou estimulá-lo de todas as maneiras, mas nada. A impotência, implacável impotência, se apossara dele.

Adiou o início do curso, enquanto decide o que fazer. Vai esperar um retorno à antiga forma? Vai se limitar às aulas teóricas? Não sabe. O sexo, como o mercado de ações, é absolutamente imprevisível.

MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha

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