Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
26 de novembro de 2008
N° 15801 - DIANA CORSO
Mickey Mouse octogenário
Conheci um senhor velho com olhar de guri.
Visto com zoom, seu rosto apresenta manchas, saliências, uma cara com sinais de uso, mas os olhos, ignorando o peso das pálpebras, fitam com picardia. Na maturidade, as cartilagens continuam crescendo, tornando-nos caricaturas de nós mesmos.
Viramos duendes, bruxas, narigudos e orelhudos. Apesar disso, fui fisgada pela vivacidade daqueles olhos, tão diferentes daqueles, arregalados através de cirurgias plásticas, ou apagados pela vida bovina que lhes desenvolve catarata na alma.
Mas quero falar de outro velho orelhudo, 80 anos completados há uma semana: Mickey Mouse. Na essência ele pouco mudou, foi o mundo em volta que foi mostrando outra cara.
Mickey continuou na ativa, é o membro mais popular da família Disney, mas foi ficando menos sapeca. Com o passar dos anos, seu bom mocismo foi se acirrando, enquanto sua imagem ia desenhando-se mais redondinha.
Seu lugar na trama era o de ser uma referência em torno da qual iam articulando-se personagens mais interessantes, como Pateta, o gauche, Donald, o descontrolado. Particularmente nunca gostei dele, mas devemos-lhe o respeito de um patriarca.
Hoje exigimos mais complexidade das personagens, elas são ambíguas, conflitivas. Até mesmo nos desenhos dirigidos às crianças pequenas os bichinhos vivem sentimentos fortes, medos, ciúme, egoísmo, covardia, inquietações.
O octogenário Mickey, assim como seu precursor o Gato Félix, nasceram num tempo de animais que estavam para mais palhaços.
Eles constituíram a linguagem corporal própria do desenho animado: eram contorcionistas, mistura de Chaplin com o Gordo e o Magro, numa estética de pastelão. Depois de algumas décadas de trabalho como detetive, o ratinho que consagrou Walt Disney, sobrevive mais enquanto ícone.
Histórias e personagens são como retratos de época: Shrek, uma personagem que hoje nos traduz, é um monstro bonachão, com problemas de sociabilidade e dificuldades para amadurecer, sarcástico e cético.
As crianças e seus desenhos animados mudaram muito, novas fantasias para novos tempos.
Como eles, alguns entre nós conseguem continuar evoluindo junto com seus narizes e orelhas. Nesse sentido, a passagem do tempo pode significar crescimento ao longo de toda a vida, espero conseguir essa proeza.
Outros, apenas controlam as transformações físicas, vão cortando as arestas, ficando cada vez mais redondinhos. Estes, como Mickey, ficam datados, sobrevivem como estátuas, sem aquele olhar maroto do velho que me cativou.
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