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sábado, 14 de junho de 2008
Ponto de vista: Stephen Kanitz
São Paulo vai parar
"Se você está parado no trânsito e na vida, lute para que nossos administradores públicos ocupem os postos para os quais foram treinados"
A cidade de São Paulo vai parar definitivamente em 2012, por congestionamento terminal, e boa parte do Brasil parará como conseqüência. Isso porque São Paulo é o centro administrativo do Brasil. Mais de 50% das 1 000 maiores empresas deste país têm a sede localizada na capital paulista.
Os administradores dessas empresas, em vez de planejar a produção do país, fazer orçamentos para investimentos futuros, programar a distribuição e a logística, controlar e minimizar os custos, intervir aqui e ali, estarão parados no trânsito. Se usarem o celular, serão multados.
Ilustração Atômica Studio
Infelizmente, nossa elite, o governo, os empresários e os intelectuais não sabem disso e não percebem o perigo. Muitos agem até contra os administradores.
Os seguidores de Adam Smith acham que os administradores em nada contribuem para a riqueza das nações. Eles acreditam que produtos chegam a nosso lar na hora certa, na quantidade certa, ao custo certo graças à "mão invisível" do seu deus "mercado".
Outros acadêmicos, como Joseph Schumpeter e John Maynard Keynes, acham que o crescimento depende do "espírito animal" dos empresários e empreendedores com boas idéias, e não dos administradores que as fazem acontecer. Uma afronta a todo administrador.
Se você também pensa assim, leia A Mão Visível: a Revolução Gerencial nos Negócios Americanos, de Alfred Chandler, escrito em 1977, nunca traduzido para o português. Chandler refuta Adam Smith, Joseph Schumpeter e a ingenuidade dos neoliberais.
Alfred P. Sloan Jr., o administrador da GM, e Henry Ford já em 1917 perceberam que o "mercado" não conseguiria produzir as 4 000 peças diferentes do automóvel na quantidade certa, com a qualidade necessária, nem, menos ainda, entregá-las na hora certa.
Foram os primeiros a rejeitar essa idolatria do mercado da Escola de Chicago e criaram estruturas e empresas complexas para produzir tudo internamente, com a qualidade e o cronograma necessários. Se dependessem do "mercado", nenhum veículo sairia funcionando.
O problema deste país é justamente esse. Administradores públicos treinados nas melhores escolas do Brasil são sistematicamente preteridos para cargos de ministros, cargos de confiança e postos de comando. Toda semana o governo recebe 96 milhões de reais de impostos dos 8 000 carros novos que entram em circulação na cidade de São Paulo.
Mesmo assim, estradas não são construídas. Isso porque falta a "mão visível do administrador público", preterido governo após governo por políticos e acadêmicos nem sempre com a experiência em planejamento e gestão adequada.
Em vez de mais impostos, mais taxas de pedágio, mais dias de proibição para circulação de veículos – as soluções apresentadas até agora –, administradores públicos teriam sugerido e feito o seguinte:
1. Investido boa parte dos 25 bilhões de reais de ICMS e IPI pagos anualmente pela indústria automobilística em estradas, sistemas viários e metrô.
2. Investido a totalidade dos 12 bilhões arrecadados pelo IPVA em ruas, estradas e transporte público. Impostos que permitiriam construir 20 000 quilômetros de estradas por ano.
3. Proibido estacionamento privado em vias públicas, especialmente de caçambas de entulho, um inaceitável uso privado de espaço público.
4. Permitido aos táxis esperar em qualquer ponto, em vez de voltar vazios ao ponto original.
5. Eliminado o rodízio. Oito por cento dos carros de São Paulo são velhos, mantidos por famílias abastadas para ser usados como o "carro do rodízio", que vive quebrando e congestionando o trânsito.
6. Instalado semáforos com contagem regressiva, para alertar o motorista distraído da frente.
Proibir estacionamento em vias públicas requer planejamento. Gastam-se quatro anos para construir estacionamentos verticais em cada esquina, dobrando o fluxo trafegável da cidade. Não é uma lei que possa vigorar no dia seguinte.
Se você está parado no trânsito e na vida, lute para que nossos administradores públicos ocupem os postos para os quais foram treinados.
Pergunte-lhes que outras soluções eles oferecem para nossos problemas. Entreviste-os, se você é um jornalista progressista preocupado com o marasmo da gestão pública em geral. Eles são os profissionais mais treinados e preparados que temos para planejar o futuro deste país.
Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)
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