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sábado, 14 de junho de 2008
15 de junho de 2008
N° 15633 - Paulo Sant'ana
A luta pela vida
Venho pela Avenida Ipiranga, o centro nervoso do trânsito de Porto Alegre, que margeia pelos dois lados o Arroio Dilúvio, divisor de águas entre a Zona Sul e a Zona Norte - estou engarrafado.
Fico a cismar, na fila imensa, que a maioria esmagadora dos veículos é composta de carros populares, os mais baratos.
Penso que eles estão na contramão do ideal das autoridades de trânsito, que pregam deverem os porto-alegrenses servir-se dos ônibus, de que fogem como o diabo da cruz.
Pelo contrário, as classes média e baixa atiram-se na compra dos carros populares, valendo-se das facilidades do crédito, há financeiras que oferecem carros em 72 ou até 90 prestações.
Entre andar de ônibus e ter o seu carrinho, sustentado com enorme sacrifício, gasolina, IPVA, garagens, flanelinhas, grande parte do povo prefere ser motorista, mesmo tendo de pagar R$ 800 por uma habilitação.
O carro transmite status para as pessoas. É de ver-se o orgulho com que empunham o volante, parece que são donos do mundo, diferenciam-se dos pobres exatamente por este detalhe, aproveitam para no fim de semana lotar as garagens dos shoppings, é sempre um passeio. Embora curto, serve para desanuviarem a mente e saírem dos seus tugúrios nos condomínios.
Quem tem um carro popular rivaliza na democracia do trânsito com o motorista que ostenta um carro importado, mas é obrigado
a esperar atrás, não há vantagem nenhuma de quem possui um carro estrangeiro na rua ou na estrada, ainda mais depois que os controladores de velocidade apinharam-se em todas as vias.
Algumas pessoas de poder aquisitivo mais baixo gastam mais com o carro e suas despesas ferozes do que em alimentação e moradia.
São uns estóicos, mas estão em dia com a modernidade. Botam, às vezes, R$ 20 ou R$ 10 de gasolina nos postos, levam controladinho aquele tanque e são obrigados a só percorrerem os trajetos exíguos da sua sobrevivência, do trabalho ou do colégio para a casa, uma fugidinha no fim de semana, nunca num percurso mais longo, o preço da gasolina impede a liberdade.
Foi tão grande a corrida das pessoas em busca dos carros, que as cidades grandes - e até muitas pequenas - ficaram com seu trânsito engarrafado.
O pior dia do ano para essas pessoas é quando têm de pagar o seu IPVA.
Aí têm de desembolsar de R$ 1 mil a R$ 2 mil e são obrigadas a contrair empréstimo: é muito cruel ter de endividar-se para pagar um imposto, mas esta fúria arrecadatória brasileira se atira brutalmente contra os cidadãos indefesos.
Comovente o esmero com que esses motoristas de modestas posses se cuidam para não transgredirem as regras de trânsito, decoram os locais em que estão os pardais, jamais cruzam um sinal vermelho, qualquer multa desequilibra-lhes o orçamento.
Quanto menos recursos tiver um motorista, menos ele será multado. É a tal história da punição no bolso.
E sempre são mais cautelosos no trânsito os carros populares. Principalmente, porque a maioria deles não tem dinheiro para pagar seguro, qualquer colisão poderá lhes privar do direito de dirigir.
Como custear um conserto que, por menos que seja, custa os olhos da cara, às vezes cinco, seis, sete vezes o valor da prestação do financiamento do carro?
Bravos proprietários dos carros populares. É verdade que eles ingressaram neste século no privilegiado círculo dos que têm veículo para se deslocar.
Mas também é verdade que para exercitarem esse direito são obrigados a ficar privados, eles e suas famílias, de muitos itens de consumo obrigatório.
Quem tem de sustentar um carro e pagar uma mensalidade de universidade privada vive hoje uma vida de pobre.
Aperta daqui, aperta dali, vão cumprindo seu estreito orçamento com remendos dramáticos.
É verdade que, ante os olhos dos pobres e dos miseráveis, seus carros populares soam até como ostentação.
Mas não sabem os pobres e miseráveis quanto sacrifício, quanta renúncia, quanta economia patética estão por trás de grande parte desses destemidos carros populares.
Seus donos são excelentes e heróicos exemplos da luta pela vida.
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