quinta-feira, 19 de junho de 2008



19 de junho de 2008
N° 15637 - Luiz Pilla Vares


Camarada e amante

No meio de tanto apelo ao consumo e tantas páginas de jornais e anúncios na televisão antes do dia dos namorados na semana passada, eu me perguntei: por que ninguém escreve sobre o célebre romance entre a pensadora e revolucionária Rosa Luxemburg e Leo Jogiches?

As cartas de Rosa para Leo (editadas em português pela Paz e Terra sob o título de Camarada e Amante) são reveladoras do caráter de ambos.

Na intimidade, que conhecemos através da correspondência, Rosa não é nem de longe aquela revolucionária durona que podemos deduzir de sua extensa obra política e teórica, nem mesmo a infatigável militante que conheceu a prisão várias vezes e acabou assassinada pelos reacionários "junkers" prussianos.

As cartas nos revelam a outra Rosa, uma mulher gentil, delicada, apreciadora das coisas simples, mas elegantes de uma vida doméstica e, sobretudo, uma mulher intensamente apaixonada. Leo Jogiches foi o seu grande amor, a paixão de sua vida.

Era revolucionário como ela, mas o seu oposto na vida pessoal. Leo era inteiramente avesso à rotina da vida doméstica e tinha como único horizonte a revolução socialista. Foi um grande pensador marxista e teve uma profunda influência na produção teórica de Rosa, inclusive em sua obra-prima A Acumulação do Capital. Mas era incapaz de escrever.

Rosa insistia muito com ele nesse aspecto e pela correspondência ficamos sabendo que mais de uma vez ele prometeu que colocaria no papel as suas idéias, mas isso nunca aconteceu, o que, obviamente, desgostava a revolucionária que nunca, até o fim de sua vida, deixou a teoria num plano secundário, escrevendo sempre, polemizando com os mais sábios teóricos da social-democracia alemã e da Internacional Socialista.

Segundo o jovem Lukács de História e Consciência de Classe, para Rosa, a mais profunda herdeira da obra de Karl Marx, pensamento e ação não poderiam andar separados.

Com temperamentos tão diferentes, o rompimento entre Rosa e Leo era inevitável e, quando surgiu, foi definitivo, uma decisão sem volta tomada por Rosa, que teria outros relacionamentos em sua vida posteriormente.

Mas nenhum deles substituiu a presença de Leo, que permaneceu seu camarada político e acompanhou os seus passos militantes até o fim da vida.

A morte brutal de Rosa foi um golpe insuperável para ele, que andava solitário pelas ruas de Berlim, sabendo que seria o próximo a ser morto. Mesmo com sua máscara de irredutível revolucionário, Leo não conseguiu imaginar a vida sem Rosa.

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