segunda-feira, 30 de junho de 2008



AYAAN, A INSUBMISSA

Querem matar Ayaan Hirsi Ali, que falará, hoje, em Porto Alegre, no ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento. O seu crime é denunciar o obscurantismo do Islã.

Ela já foi acusada de tudo um pouco, inclusive de fundamentalista da emancipação. A sua argumentação é límpida: uma religião tribal não pode reger a vida moderna.

A crítica mais contundente que ela faz ao islamismo diz respeito à condição da mulher, mantida em cativeiro doméstico, ignorante e submissa, para não tentar os homens, que não são educados para o autocontrole das suas pulsões.

No seu livro 'A Virgem na Jaula', cujo lançamento acontecerá nesta segunda-feira, Ayaan Hirsi Ali descreve em detalhes uma das mais bárbaras e violentas mutilações praticadas contra as mulheres, a excisão do clitóris.

Fragmento do horror: 'A circuncisão feminina é de longe o método mais brutal de preservação da virgindade. O processo envolve a ablação do clitóris e dos lábios maiores e menores, bem como a raspagem das paredes da vagina com um objeto afiado – um caco de vidro, lâmina de barbear ou faca de cozinha.

Em seguida, as pernas são atadas até que as paredes vaginais cicatrizem e se fechem. Isso ocorre em mais de 30 países, incluindo o Egito, a Somália e o Sudão. Embora não prescrito pelo Alcorão, esse costume de origem tribal tornou-se quase uma obrigação religiosa para aqueles muçulmanos que não podem dispensar suas meninas do trabalho fora de casa, e como tal é defendido.

Seus defensores argumentam que a circuncisão das mulheres existia antes e durante a vida de Maomé, não tendo sido explicitamente proibida pelo profeta. A assim chamada infibulação (literalmente 'sutura') serve como um selo de garantia das mulheres e é realizada sob os olhares vigilantes de mães, tias, avós e outras guardiãs femininas'. É o império dos machos.

As mulheres assimilam esse adestramento e passam a defendê-lo. Mesmo quando se mudam para a Europa, muitas delas buscam nessa marca de submissão um sinal de identidade cultural.

A conclusão é clara: nem toda diferença cultural é passível de defesa. No caso da condição da mulher no mundo islâmico, o que se tem é pura e simplesmente opressão e machismo.

Ayaan Hirsi Ali denuncia a origem de tudo isso: 'Muitos muçulmanos se recusam a atribuir a responsabilidade por sua miséria à própria comunidade ou à moral sexual imposta pela sua religião.

Em vez disso, preferem culpar Alá, o demônio ou outras formas externas, como os judeus, os americanos ou o colonialismo. Os muçulmanos não reconhecem que, de fato, a busca por uma vida baseada em seu próprio livro sagrado é a maior fonte de sua infelicidade'.

Essa discussão pode até parecer absurda no Brasil, mas é essencial no mundo atual. Ayaan Hirsi Ali é o novo Voltaire. Ataca impiedosamente uma cultura assentada sobre as idéias de honra e vergonha, que, para não perceber a sua falácia, transforma a mentira em estratégia cotidiana.

Tudo isso tem um nome: atraso. O Ocidente, bem entendido, tem as suas formas de barbárie e os seus preconceitos. Não se avançará, porém, fazendo um jogo de soma zero em que um mundo respeitará a ignorância do outro como valores intocáveis.

Ayaan Hirsi Ali não quer o fim da religiões. Deseja apenas a separação entre religião e Estado e que a emancipação individual chegue ao Islã, inclusive para as mulheres. Quer luzes.

juremir@correiodopovo.com.br

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