sexta-feira, 20 de junho de 2008



20 de junho de 2008
N° 15638 - José Pedro Goulart


A sopa nossa de cada dia

Durante o caso Isabella, a exploração excessiva do assunto por parte da mídia foi muito discutida. Um debate surreal, na minha opinião. O que afinal estavam querendo?

Que durante o episódio a Luciana Gimenez deixasse de ser a Luciana Gimenez e se transformasse na Susan Sontag, por exemplo? As coisas, como na propaganda da Sprite, "são como elas são".

Vejamos o caso da novela Pantanal, exibida pela enésima vez em horário nobre, desta vez no SBT. Um anúncio publicado nos jornais avisa que a novela "só" começa depois que termina a da Globo. Não é a primeira vez, aliás, que o SBT se refere à programação de outra emissora para tentar garantir audiência. Vale tudo. Qualquer coisa por uma migalha de Ibope.

Se relacionar com a concorrência se autodepreciando ou, ainda pior, requentar uma novela gasta ao invés de preencher o espaço com alguma novidade.

Notícia recente, inclusive, diz que a filha do Sílvio Santos estaria na ponta da fila para assumir o SBT. Eu não sei se a moça tem capacidade para ocupar um cargo de tamanha relevância - social, política, cultural - , mas conheço pelo menos uma dezena de pessoas que tem. Terão essas pessoas alguma chance de pleitear a vaga?

Para governador, prefeito ou legislador, é necessário o referendo das urnas. Entretanto, o cargo de presidente de uma emissora, com todo poder presumível, é decidido tão somente pelo DNA, no caso um DNA oriundo de uma matriz que sempre se mostrou inapta.

Novela, a propósito, sempre foi o grande trunfo da Rede Globo para garantir ano após ano a liderança da audiência. Uma vez capturados durante os primeiros capítulos, nos obrigamos a seguir fiéis até o fim. Disse aqui em outro artigo e repito que a novela, quando em excesso, acaba tomando para si algo de orientação, de educação de uma parcela enorme da população.

É aí que mora o perigo, já que a novela é uma peça superficial de dramaturgia, em que personagens previsíveis vivem conflitos maniqueístas.

Muitos falam na TV a cabo como opção à TV aberta, mas o fato é que para grande parte população, sem grana para o serviço, essa é ainda uma possibilidade remota. Junte isso às futilidades e factóides privilegiados na maioria dos portais de Internet;

além da pouca vontade de se aprofundar ou inovar da maioria dos meios de comunicação e chegamos perto de uma equação sobre as causas e conseqüências provocadas por essa entidade chamada mídia.

Alguma coisa como uma grande sopa, cujos ingredientes podem estar boiando ou escondidos no fundo da panela, e o caldo diariamente servido à nação.

A onda provocada pela morte da menina Isabella passou, a reclamação quanto aos excessos acabou; e, a propósito, a Luciana Gimenez continua no ar.

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