sábado, 21 de junho de 2008



22 de junho de 2008 | N° 15640
Paulo Sant'ana


Um belo gesto dos políticos

O que importa é o Rio Grande. Quem de sã consciência não está torcendo para que o governo Yeda Crusius
obtenha o empréstimo de US$ 1,1 bilhão do Banco Mundial? Quem?

Quem é que não se condói com a aflição do governo estadual e do Rio Grande com a terrível canga do pagamento da dívida, que consome 19% da arrecadação de todos os impostos, que suga o sangue gaúcho e nos faz mergulhar em uma crise de recursos e de investimentos - e salários aviltantes dos servidores do Poder Executivo - , quase paralisando o governo? Quem?

A resposta é: ninguém. Constrangidos e premidos pelos trâmites demorados e encaroçados do expediente que embasa o pedido de empréstimo, petistas, pepistas, democratas, tucanos, todos se atiraram ao mutirão que visa a aprontar toda a papelada que habilita o empréstimo antes do prazo fatal que impede, por força da Lei Eleitoral, que se cometam tais transações.

Do presidente Lula, passando pela ministra Dilma Rousseff, pelos senadores Paulo Paim e Sérgio Zambiasi, pelo deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB), além de outros parlamentares, todos estiveram mobilizados para que o expediente saísse do gabinete presidencial o quanto antes, a fim de que chegasse até o Senado na sexta-feira última.

Então, foi comovente e patético o esforço sobre-humano do senador Pedro Simon (PMDB) para não deixar que a sessão do Senado fosse encerrada.

Simon discursou das 10h às 16h. O plenário estava vazio. Só restavam ele e os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Heráclito Fortes (DEM-PI). Os três sozinhos. Os outros 78 senadores tinham viajado para suas bases na quinta-feira à noite, ainda mais que é época das festas juninas e a bancada nordestina não pode perder festas juninas.

E Pedro Simon, sem almoçar, com receio de que a mensagem não chegasse a tempo e o empréstimo bilionário em socorro do Rio Grande do Sul caísse por terra, foi prolongando agonicamente a sessão com seus pronunciamentos, não deixando a sessão se encerrar, não permitindo que caísse a peteca, numa vigília heróica pelos interesses do Rio Grande.

E Simon foi enchendo morcilha, falava como se estivesse fazendo o Sermão da Montanha, embora estivesse consciente de que discursava para as pedras, só dois senadores o escutavam, a não ser as pessoas que o acompanhavam pela televisão, grande parte jornalistas, na sua pregação procrastinadora, na sua embromação verbalística dramática, não permitindo que o fogo da pátria rio-grandense se apagasse com o encerramento da sessão e as esperanças do empréstimo salvador se estiolassem.

É de se calcular o que diziam na Casa Civil e no gabinete do presidente Lula a respeito de um senador solitário que se finava e se esganiçava na tribuna em defesa do seu Estado pedinte e necessitado. Era preciso apressar o documento que seria enviado ao Senado. E assim fez, premido pela urgência, o Planalto.

E chegou a tempo o documento, por volta das 16h. Tinha valido a pena a vigília estafante de Pedro Simon.

Mas se esse empréstimo balsâmico vier a ser concedido nos próximos meses, o Rio Grande terá de fazer uma homenagem solene e repleta de gratidão ao senador Heráclito Fortes, do Piauí, do distante Piauí, que acompanhou com fidelidade canina o senador Simon no desesperado aguardo do documento.

Nós, gaúchos, nunca vamos esquecer do gesto profundo de solidariedade do senador piauiense, a afirmar que somos todos brasileiros e que mesmo uma aflição distante que corroa a um de nós num outro extremo do país a nós pertence e merece nossa atenção e piedosa e patriótica ajuda.

Toda a extensão desse episódio demonstra uma face grandiosa e nobre da política. Quando uma causa interessa vitalmente a um povo, a um Estado ou à nação, todos os políticos de todas as siglas se unem em torno dela.

Num tempo de descrença nos políticos, ergamos um brinde aos que sendo gaúchos honraram nosso chão e aos que não sendo gaúchos uniram-se dedicadamente à nossa empresa, mostrando que antes de tudo são brasileiros.

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