quarta-feira, 18 de junho de 2008



18 de junho de 2008
N° 15636 - Sergio Faraco


A morte de Ernani

Alguns leitores me escreveram perguntando como morreu o poeta Ernani Chagas, personagem da coluna anterior.

Era já minha intenção lhe dedicar outra quarta-feira e, por isso, solicitara os préstimos do historiador Valter Antonio Noal Filho e da pesquisadora Therezinha dos Santos Pires, ambos de Santa Maria. Eles vasculharam as antiqualhas da cidade e, gentilmente, enviaram-me diversas reproduções dos jornais da época.

Ernani nasceu em 7 de outubro de 1898, em Santa Maria, filho do fazendeiro Bento Gonçalves Chagas. Trabalhava com o pai e desenvolvia intensa vida social. Embora muito jovem, durante alguns anos foi presidente de um clube esportivo, o Tamandaré.

Era colaborador do jornal O X, com pequenas crônicas e poemas, que assinava com inúmeros pseudônimos. Caricaturista, músico, aquarelista, era tido por quem o conhecia como alguém que cativava pela generosidade.

Em edição de 20 de abril de 1921, o Jornal do Interior reconstitui os episódios que levaram o poeta à morte.

No dia 17, no Club Forasteiros, à Rua Coronel André Marques, Ernani e seu amigo Olmiro Antunes tiveram uma discussão por causa de mulheres, e o poeta foi agredido com uma bofetada.

No dia seguinte ele procurou Olmiro, encontrando-o às 21h na loja do sr. Ângelo Bolsson, à Rua Silva Jardim, e o chamou com um aceno. Altercaram novamente e Ernani esmurrou Olmiro, que sacou uma Browing 32 e disparou três vezes. Ernani foi ferido na região occipital, na coxa e no tórax, na altura da oitava costela.

Esta bala, acrescenta o jornal, "atravessou o diafragma, lesou o estômago e perdeu-se na cavidade abdominal". Olmiro foi preso em flagrante. Hospitalizado, o poeta não resistiu, falecendo às 22h15min do dia 19 de abril. O sepultamento ocorreu no dia 20, às 15h. Tinha 22 anos.

Os dois rapazes eram pessoas bem relacionadas, sobretudo o poeta, e o crime causou grande consternação em Santa Maria.

Todos os jornais locais se ocuparam do episódio, entre eles O X, que se esmerou em homenagens ao seu colaborador, inclusive com um texto de Aureliano de Figueiredo Pinto, mais tarde aproveitado como introdução ao Livro póstumo, editado pelos irmãos de Ernani (Porto Alegre: Livraria do Globo, 1935).

Após a missa do 30º dia, os amigos organizaram uma romaria ao cemitério, partindo do Café Guarany em "auto-bond", e o jornalista Sady Lisboa depositou no túmulo do poeta um ramalhete de flores e um exemplar de O X, conforme a edição de 29 de maio do mesmo jornal.

Olmiro Antunes suicidou-se na prisão.

Um comentário:

R.M.F. disse...

Procurando a obra, desse parente.