sábado, 14 de junho de 2008



15 de junho de 2008
N° 15633 - David Coimbra


Uma solitária noite de sábado

Uma vez, fiz o arroz com lingüiça perfeito. O arroz com lingüiça da minha vida. Lembro muito bem daquele arroz com lingüiça. Preparei-o num sábado à noite. Fiz para mim mesmo e para mais ninguém.

Um arroz de mim para mim. Gostava de programas solitários no sábado à noite. Porque, afinal, sábados são para amadores. Quem é da noite mesmo sai durante a semana. Então, reservava as noites de sábado para ficar em casa lendo, assistindo filmes e cozinhando.

Daquela vez, municiei-me de um tinto especial e coloquei-o para resfriar ligeiramente no refrigerador. Aí peguei bacon, bacon é importante. Piquei bem picadinho, mas bem picadinho mesmo.

Espalhei os pequeninos pedaços no fundo da panela de ferro e acendi o fogo, porém baixo. Tapei a panela. Enquanto o bacon liberava a gordura, fatiei uma cebola de bom tamanho e cortei dois dentes de alho em minúsculas partículas. Acrescentei o alho e a cebola ao bacon, que a essa altura já vertia seu sumo oloroso.

O alho e a cebola ficaram fritando lentamente, como se fossem ministros da República. A lingüiça já estava à espera. Uma lingüiça adquirida nas bancas sesquicentenárias do Mercado Público, do tamanho de um cassetete da Brigada.

Extraí da lingüiça a fina capa que a envolvia. Aliás, essa questão da capa da lingüiça é sofisticada e exige uma consideração: aprenda, atento leitor, o que aprendi com minha mãe, a Dona Diva, no recôndito do IAPI:

quando a lingüiça é ensacada com a tripa original do porco, ou seja, quando é natural como a mais virgem das matas amazônicas, ela fica encurvada, uma meia-lua; quando a capa é artificial, de plástico, a lingüiça se põe ereta, como um grumete em posição de sentido.

Aquela era natural. Tripa de porco de verdade. Curva, pois. Mesmo assim, removi a tripa e reduzi o conteúdo a, praticamente, farelo. Juntei ao refogado que chiava na panela e espalhava por toda a casa um cheiro envolvente e capitoso.

Em seguida, colhi de uma cesta nada menos do que seis tomates vermelhos de um vermelho vivo e, um a um, passei-os pelo fogo do fogão, o que, você já sabe, faz a casca do tomate se despegar da polpa.

Despelados os tomates, piquei-os e os derramei na panela. E fui mexendo e mexendo e mexendo sempre, com uma colher de pau. Para finalizar, duas pitadas de pimenta do reino e meio copo de vinho, não aquele tinto especialíssimo, mas um vulgar, de 15 míseros reais.

E aí é mexer e mexer e continuar mexendo em sentido horário, até que o molho se torne denso como um livro de Spinoza. Feito isso, basta jogar na mistura uma xícara de arroz, dar mais duas voltas com a colher de pau, tapar a panela e deixar que a natureza complete o seu trabalho.

Foi isso que fiz naquele sábado, sim, senhor, e foi belo. Quando finalmente pus diante de mim o prato cálido de arroz com lingüiça e salpiquei-o com queijo ralado uruguaio e brindei a mim mesmo com um gole do tinto e, depois disso tudo, provei um bocado da iguaria, pensei: Wolfrembaer!!!

Foi legal. Foi inesquecível. Após aquela noite, fui, modestamente, autor de outros apetitosos pratos de arroz com lingüiça, mas igual àquele, não mais.

Certas fórmulas a gente não consegue repetir. Tipo o time que consagrou Tite como técnico, o Grêmio de 2001. Aquele era um time tão perfeito como o meu arroz com lingüiça.

Começava com um dos maiores goleiros da história do futebol gaúcho, Danrlei, e terminava com um atacante de Seleção Brasileira, Marcelinho Paraíba. Fazia tempo que não via um time gaúcho jogar um futebol tão bonito e eficiente como aquele Grêmio.

Nos sete anos que se seguiram, Tite continuou fazendo bons trabalhos, mas aquela mágica ele não conseguiu repetir. Quem sabe agora, no Inter?

Quem sabe eu mesmo não consigo, qualquer dia desses, preparar um arroz com lingüiça igual ao que fiz naquela longínqua noite de sábado?

De Todos os Tempos

Muitos leitores escreveram protestando contra a lista de jogadores que fizemos, nós aqui do Esporte da Zero, com os jogadores que poderiam integrar a Seleção Brasileira de Todos os Tempos.

Os gremistas reclamaram da ausência de quatro jogadores: Lara, Aírton Ferreira da Silva, Gessy e Renato Portaluppi.

Os colorados lembraram principalmente de dois: Nena e Tesourinha. De fato, os seis poderiam estar na Seleção de Todos os Tempos. Se os acrescentasse à lista, poderia inclusive formar uma Seleção Gaúcha que seria a Brasileira de Todos os tempos. Essa:

Goleiro e zagueiro são as posições com maior fartura no Rio Grande amado. Goleiros são três: Lara, Manga e Taffarel. Zagueiros, quatro: Aírton, Calvet, Nena e Mauro Galvão. Laterais, só um, Nelinho, e ainda assim considerando que ele jogou no Grêmio, já que Nelinho é mineiro.

O meio-campo teria um tripé: Falcão, Gessy e Ronaldinho. E o ataque dois: Renato Portaluppi e Tesourinha. Como o Calvet já jogou de volante e Nena poderia atuar como lateral, daria para formar um time e, olha, bem razoável.

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