sábado, 21 de junho de 2008



22 de junho de 2008
N° 15640 Moacyr Scliar


O pai de fim de semana

Na semana passada, o presidente Lula sancionou o projeto de lei que cria, no Código Civil, a opção de guarda compartilhada dos filhos de pais separados. Até agora só havia a guarda unilateral, ou seja, o filho ficava com um dos pais, geralmente com a mãe.

E isto dava origem a uma figura que acabou se tornando típica: a figura do pai de fim de semana, o pai que vai buscar o filho em geral na sexta à noite e devolve-o no domingo à noite. Como funciona isto? Num blog encontrei um pungente depoimento a respeito.

É um pai que declara, patético: "Eu, que desde o dia em que o meu filho nasceu abdiquei de muita coisa para estar perto dele, eu que, por causa do bebê, desisti de projetos profissionais e recusei propostas tentadoras, eu que cuidei dele, eu que sabia o horário certo de aquecer o leite para a mamadeira, eu passei a pai de fim de semana."

Uma semana, continua o relato, que custava a passar. E que culminava num fim de semana nem sempre tranqüilo, rotineiramente passado num shopping. Por que o shopping? Porque o shopping oferece diversão, comida, oportunidade de compras; o shopping ajuda a vencer a ansiedade não raro associada a estes encontros.

A propósito, lembro o conto deste belo escritor norte-americano que foi John Cheever, sensível intérprete dos conflitos da classe média.

A história chama-se Reunião e começa assim: "A última vez que vi meu pai foi na estação Grand Central, em Nova York". Por esta estação, o rapaz que vive com a mãe deve passar, e ali ficará por uma hora e meia. É este o tempo que tem para se encontrar com o pai, que mora naquela cidade.

O encontro acontece, mas resulta num desastre. O almoço que havia sido combinado não ocorre, porque o pai simplesmente não consegue escolher o restaurante: em cada estabelecimento que entra compra briga com os garçons. Finalmente, o rapaz é obrigado a se despedir: o trem está partindo.

Ficamos com a impressão de que este pai é um idiota; por causa de suas idiossincrasias desperdiça o escasso e precioso tempo que tem para conversar com o filho.

Mas será que é assim? Será que este pai não é movido pela ansiedade avassaladora que adivinhamos no relato anterior? Será que as brigas não servem de válvula de escape para uma tensão que de outro modo seria insuportável?

A palavra "guarda" tem uma conotação desagradável, mas "compartilhada" é um adjetivo extremamente importante. É importante, em primeiro lugar, na relação entre pais e filhos.

Queixa-se o autor do depoimento antes mencionado: "Nunca consegui que a mãe do meu filho falasse comigo sobre ele. Na sexta-feira, quando tocava a campainha, o menino aparecia sozinho;

no domingo, quando ia levá-lo, já encontrava a porta do apartamento semi-aberta". Ou seja: todo contato era evitado. Agora imaginem como isso repercutia no filho.

Compartilhar simplesmente quer dizer respeito, cooperação, junção de esforços para um objetivo comum. As pessoas não precisam se abraçar, não precisam nem mesmo sorrir, quando estão compartilhando algo importante; só precisam do bom senso. Isto vale para as relações entre países, entre partidos políticos, entre grupos sociais.

A vida não é feita só de fins de semana. E os pais não são pais só em determinados dias. São pais sempre, e mesmo que o casamento tenha terminado, precisam dar-se conta disso.

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