sábado, 28 de junho de 2008



28 de junho de 2008
N° 15646 - Nilson Souza


Ele

Recebemos esta semana em nossa Redação a visita do escritor Sergio Faraco e ele nos contou coisas chocantes sobre o ofício de escriba. Disse, por exemplo, que jamais sabe como serão os finais de seus inexcedíveis contos quando começa a escrevê-los.

Deu a entender que se deixa conduzir pelo texto, como se fosse um principiante e não o reconhecido autor de histórias antológicas que todos admiramos. Pior, e suprema heresia nesta era tecnológica: confessou que redige tudo à mão primeiro e só depois se aproxima cautelosamente do computador para dar o trato final.

A garotada da assistência arregalou os olhos, incrédula. Mas o mais espantoso de seu relato, pelo menos para mim que fui o autor de uma pergunta sobre o tipo de retorno que ele espera do público, foi esta revelação:

- Eu não me importo nem um pouco com o que o leitor pensa daquilo que escrevo!

Neste momento da preleção, nós, os mais calejados, também ficamos arregalados. Aprendi no meu longínquo curso de Jornalismo, pela voz do saudoso professor Ernesto Corrêa, uma lição inesquecível em uma frase, que ele disse ter copiado da parede da redação de um jornal norte-americano:

- Lembre-se que você está escrevendo para ELE!

O ele maiúsculo, explicou-nos o irreverente mestre na ocasião, significava o leitor. Significa você, que está me lendo agora. Escrevo meus textos jornalísticos e também estas crônicas bissextas para que você leia.

Sei, tem muita gente que escreve para as gavetas, já fiz muito disso também, mas acredito que mesmo esses autores voluntariamente anônimos têm lá no fundo de suas tímidas almas a certeza de que um dia alguém os lerá.

Ops, não vou começar a filosofar agora. Volto a Faraco e à sua quase arrogante declaração. Para dizer que ele tem uma justificativa plausível para a sua aparente indiferença pelo leitor.

- Não dou a mínima para críticas ou elogios simplesmente porque sempre procuro fazer o melhor.

Como seu leitor, e conhecendo sua obsessiva busca pela palavra exata, pela frase perfeita, pela mensagem ao mesmo tempo concisa e emocionante, eu poderia atestar que ele sempre consegue fazer o melhor.

Mas, como respeito demais o meu leitor e tenho a pretensão de que o desavisado escriba possa estar entre os poucos que chegaram ao final deste texto, não vou aborrecê-lo com observações tão desimportantes.

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