quinta-feira, 26 de junho de 2008



O GRANDE CULPADO

ARTE PEDRO DREHER SOBRE FOTOS CP MEMÓRIA
Depois do meu texto radical da última segunda-feira, em que revelei toda a minha desconfiança em relação aos políticos, o deputado Germano Bonow me telefonou. Gentilmente, ele me lembrou que faltava um elo na cadeia de responsabilidade apresentada por mim: o eleitor.

Destacou ainda que, neste ano de eleições municipais, o eleitor poderá, se quiser, arrumar a casa. Não haverá desculpas. Nesse tipo de pleito, de proximidade, cada eleitor poderá recompensar ou punir bons e maus candidatos sabendo quem é cada um, o que faz, de onde vem e o que pretende.

Como não é politicamente correto dizer que os eleitores não sabem votar, fica combinado que eles o fazem em conhecimento de causa. São, portanto, co-responsáveis por aqueles que elegem. Como em 'O Pequeno Príncipe', cada um é responsável pela raposa que cativa.

Eu já propus que prefeitos, governadores e até o presidente da República sejam responsáveis pelos atos ilícitos dos seus secretários e ministros sabendo ou não previamente dos seus golpes. Vou ampliar agora a minha idéia de responsabilidade moral, que já era uma extensão da responsabilidade fiscal, para uma responsabilidade eleitoral.

Toda vez que um político roubar, mesmo que seja para financiar campanha, dez, cem ou mil dos seus eleitores devem ser sorteados para o acompanhar na cadeia. Se houver reincidência, a punição será dobrada. No caso de reincidência do eleitor, ou seja, votar de novo num ladrão, a pena será triplicada.

O eleitor é como a carta roubada da história de Edgar Allan Poe: está em cima da lareira e ninguém a vê por se encontrar num lugar óbvio. O culpado é quem elege. Claro que isso pode se tornar apenas um álibi para eleitos cínicos, ainda mais que essa parece ser uma qualidade essencial em política.

O único defeito dessa idéia é que, como político não vai para a cadeia, os eleitores também serão dispensados de cumprir pena. Há um ponto positivo: não acontecerá a explosão definitiva da população carcerária.

Talvez seja o caso de aceitar a sugestão de um leitor meu bastante antenado: parar de acusar os políticos de desvio de milhões de reais ou dólares. Isso absolve qualquer um.

Roubar muito é sinal de prosperidade, de ambição e de espírito empreendedor. O negócio é denunciá-los por roubo de pote de margarina. Aí é uma questão de princípio. Quem rouba pouco, lesa o alheio e dissemina maus hábitos. Em lugar de receber ou divulgar gravações, a mídia devia conferir o material das câmeras dos supermercados.

Como estou numa fase generosa, dando sugestões gratuitas, aqui vai mais uma proposta: cassar direitos políticos. Isso já existe? Não. Proponho cassar direitos políticos de eleitor que votar duas vezes num mesmo candidato corrupto.

Essa medida de profilaxia surtiria efeito a médio prazo. Outra possibilidade seria o título de eleitor com pontos, a exemplo da carteira de motorista. Cada vez que o eleitor votasse num salafrário, perderia pontos no título, até ter o documento cassado.

Nas carteiras de motorista, porém, tem gente que cobra para assumir infrações alheias. Duvido que alguém pague para transferir pontos perdidos do seu título de eleitor. O contrário seria mais provável.

Uma coisa me parece irrefutável: quem vota em ladrão conhecido, com culpa no cartório e na mídia, tem direito de ser roubado. É como assinar cheque em branco para político. Já imaginaram?

juremir@correiodopovo.com.br

Mesmo com chuva que promete chegar logo, pois que, já é real nas redondezas, que tenhamos todos uma ótima quinta-feira.

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