sábado, 14 de junho de 2008



14 de junho de 2008
N° 15632 - Cláudia Laitano


Pais & filhos

1) As fugitivas - Quando as primeiras notícias sobre duas adolescentes desaparecidas em São Paulo começaram a chegar à redação, todas as mães ficaram apreensivas. Mães de bebês ou de barbados, todas temos esse cacoete universal de enxergarmos nossos próprios filhos nas situações de risco ou maus-tratos pelas quais passam os filhos de outras mães.

Quando a situação se esclareceu, e o que poderia ter sido uma tragédia revelou-se apenas uma traquinagem de duas amigas descabeçadas, a "irmandade materna" aqui do jornal relaxou, e a brincadeira passou a ser imaginar castigos mirabolantes para as duas fujonas - no mínimo à altura da angústia vivida pelas famílias durante todos aqueles dias sem notícias.

Passado o susto, fica do caso essa curiosa circunstância de as meninas terem se inspirado em um filme, Um Beijo Roubado, para colocarem em prática a fantasia - exageradamente precoce talvez - de inventar sua própria aventura, explorar lugares desconhecidos, fazer novos amigos e, com sorte, ainda ganhar um beijinho do Jude Law no meio do caminho.

Fala-se muito em gestos de violência inspirados pelo cinema, mas filmes que inspiram fantasias de liberdade e pé-na-estrada andam mais raros.

Um exemplo ainda melhor do gênero, o comovente Na Natureza Selvagem, em cartaz em Porto Alegre, coloca em discussão o excesso de pragmatismo dos jovens pós-anos 60.

Quando um menino resolve largar tudo, carro, universidade, conforto, para se enfiar no mato em busca do sentido da vida, o primeiro impulso é procurar os motivos psicológicos que o levaram a abrir mão dos sonhos de consumo da sua geração. Mas não é todo mundo que quer ter a vida toda programada e três cartões de crédito no bolso antes de completar 25 anos.

Viagens, paixões, aventuras, e mesmo as grandes roubadas, alargam os horizontes, criam anticorpos e ajudam a encarar todos os anos de rotina que virão - e eles sempre vêm - logo em seguida. Aventurar-se, pois, é preciso - mas não custa dar uma ligadinha para os pais de vez em quando.

2) Guarda compartilhada - A melhor notícia da semana para mães, pais e filhos foi a sanção do presidente Lula ao projeto de lei que institui a guarda compartilhada.

Crescer ao lado de pai e mãe, presentes e atuantes, é um direito básico que nenhuma lei deveria contrariar. A guarda compartilhada é a maneira civilizada de garantir que uma separação não seja uma sentença de que o amor paterno sempre tenha horas e dias marcados.

Algumas mães ainda acham que os filhos são mais seus do que dos pais, e não são raros os casos de mulheres que usam as crianças para se vingar de maridos que pisaram na bola.

Separações são sempre dolorosas, mas os ressentimentos de um casamento fracassado não deveriam atrapalhar a vida das crianças mais do que o divórcio em si.

Mulheres que aceitam dividir alegrias e responsabilidades com um pai amoroso são mais saudáveis, mais felizes e mais seguras do que estão fazendo.

Homens que lutaram pelo direito de viver a paternidade de forma integral podem se orgulhar: essa é a primeira grande conquista do incipiente Movimento de Libertação Masculina. Outras virão.

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