quinta-feira, 19 de junho de 2008



19 de junho de 2008
N° 15637 - Paulo Sant'ana


A opinião pública

Depois que inventaram as pesquisas, eu me posto inteiramente respeitoso ao que determina a opinião pública.

Não sei bem o que venha a ser a opinião pública, mas as pesquisas me condicionam a concluir que opinião pública é o entender da maioria do povo. Se a opinião pública se inclina majoritariamente por um enfoque, é ali que está a verdade, segundo me dão a entender alguns analistas que se tornam escravos e cegos da vontade popular.

A opinião pública é a favor da gravação do Feijó, é contra os carroceiros, é contra o Celso Roth, é contra os presídios (nenhuma comunidade da Grande Porto Alegre permite construção de presídio em sua cidade), a opinião pública é contra os criminosos, a opinião pública quer que os presos apodreçam nos presídios, a opinião pública é a favor da pena de morte, a opinião pública quer todos os políticos corruptos na cadeia, enfim, essa entidade etérea, abstrata, volátil, chamada opinião pública fornece todos os dias nos jornais qual é a sua vontade e seu ideal de como as coisas têm de ser feitas no Brasil.

Por que as instituições não atendem à opinião pública, se estamos numa democracia?

Foi publicada esses dias uma pesquisa em que a maioria dos pesquisados apoiou Paulo Feijó quando gravou e divulgou o Busatto e a mesma maioria quer que Feijó se afaste do governo.

Mas como? Se Feijó prestou um grande serviço ao denunciar a corrupção dos partidos em tirar dos cofres públicos o sustento para suas campanhas eleitorais, como podem querer que ele deixe o governo?

A pesquisa me deixou tonto.

O certo seria que as pesquisas também demonstrassem que o Feijó tinha de continuar no governo, onde continuaria sendo útil ou até imprescindível, prosseguindo com suas denúncias contra o governo.

Teve gente que entendeu que a gravação de Feijó foi legal e ética porque a opinião pública aprovou-a.

Assim como os pedidos de impeachment da governadora Yeda: querem arrancar a ela e ao Feijó do governo, baseados exatamente na denúncia de Feijó.

Dá para entender?

Não dá para entender, tanto os pesquisados quanto os pedidos de impeachment revelam uma iconoclastia apavorante: eles idolatram Feijó, querem a desgraça de Yeda, mas tentam também derrubar o próprio Feijó.

Cá para nós, dá para entender a opinião pública? Ela quer ver sangue.

Agora saiu da Câmara de Vereadores um projeto que vai proibir o tráfego de carroças em Porto Alegre, em nome principalmente dos maus-tratos que muitos carroceiros causam a seus cavalos. Muito justo.

Mas muito justo também que os catadores de lixo, não podendo mais usar carroças puxadas a cavalos, eles próprios puxassem os seus carros.

Ou seja, não haveria mais maus-tratos aos cavalos, porque seriam proibidos os cavalos. Para não morrer de fome, prosseguiriam os carrinheiros, eles próprios puxando os seus carrinhos (sem cavalos).

Mas parece que no projeto não serão permitidos nem os carrinheiros. Ora, então não era por causa dos maus-tratos aos animais.

Era para acabar mesmo com os carroceiros e com os carrinheiros, para destiná-los à fome e à miséria.

E recebo finalmente dois e-mails bem escritos, ontem, sobre a entrega por uma patrulha do Exército de três jovens para serem massacrados, com mãos e perna decepadas antes de morrerem, e depois serem abatidos a tiros por traficantes do Morro da Mineira.

Os dois e-mails, muito bem escritos, afirmam que o tenente decidiu certo ao encaminhar os três jovens para a destruição, se eles desacataram a patrulha, então é porque não eram boa coisa.

Dá para entender a opinião pública?

Senão que foi a mesma opinião pública que, quando foi chamada a escolher entre Jesus e Barrabás, decidiu mandar o Nazareno para a cruz. E também foi a opinião pública que decidiu que uma donzela santa e brava, chamada Joana dArc, fosse exterminada na fogueira.

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