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quarta-feira, 18 de junho de 2008
Mulheres são fiéis; homens, pouco amigos
RELAÇÕES AMOROSAS Datafolha mostra que elas são mais severas que os maridos na hora de avaliar o companheiro
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles são menos companheiros, menos atenciosos e menos fáceis de conviver que os homens brasileiros; elas são mais fiéis, mais confiáveis e mais atenciosas com o marido que as mulheres ocidentais.
No campo das relações amorosas, a pesquisa Datafolha detectou uma espécie de guerra dos sexos -enquanto a porção feminina coleciona medalhas de honra ao mérito, a brigada masculina sai chamuscada desse campo de batalha.
"O japonês é menos atencioso com a mulher. Namorei três descendentes e eles eram diferentes dos ocidentais. Acho mais fácil conviver com o brasileiro porque ele fala o que pensa. Os japoneses escondem o que sentem, e aí a relação fica complicada", diz a aposentada Junko Sassaki Jacintho, 65.
Junko integra o clube das descendentes que peitou a família japonesa para casar com um brasileiro. Ela fundamenta sua escolha: "Os casais de descendentes são mais fechados, e o japonês é mais machista que o brasileiro. Então, nunca daria certo eu com um oriental, porque eu não abaixo a minha cabeça por nada no mundo. Se estiver correta, vou até o fim".
Já seu marido, o aposentado Milton Jacintho, 61, com quem está casada há 32 anos, derrama uma leva de elogios às japonesas. "As mulheres descendentes são mais honestas, confiáveis, leais. Antes de casar, namorei outras japonesas", diz.
A pesquisa Datafolha mostra que o homem tem uma imagem mais positiva da mulher descendente do que a mulher em relação ao homem descendente. Os orientais são considerados menos companheiros (22% contra 35%), menos fáceis de conviver (21% contra 32%) e menos atenciosos com a mulher (20% contra 41%).
"Todos os imigrantes chegaram com uma carga familiar em que o homem é o chefe da família. Do ponto de vista ocidental, talvez o japonês seja mais machista, mas, no código de conduta japonês, esse comportamento é normal", explica a antropóloga Célia Sakurai, autora de "Os Japoneses" (ed. Contexto, 368 págs., R$ 49,90).
Talvez seja isso que leve os homens descendentes, especialmente os mais jovens, a bater tanto na tecla do "não sou como meu pai". Diz o estudante de engenharia Alex Akio Kubo, 26: "Nem todos os homens japoneses são machistas. Eu, por exemplo, não me importo de lavar a louça".
Sua namorada, a estudante de fisioterapia Flávia Naomi Yano, 24, atesta a diferença entre o "seu" descendente e os outros: "Meu namorado lava a louça, mas meu pai, não. Japonês que nasceu no Japão é diferente, fica mais fechado nas tradições. As novas gerações se adaptaram ao estilo de vida dos casais brasileiros".
O par está junto há três anos. "Já fiquei com brasileiras, mas sempre namorei descendentes. Minha mãe acha mais certo namorar orientais", completa ele.
O mito da gueixa
Segundo Célia Sakurai, os estereótipos sobre a japonesa -e isso inclui a submissão em relação ao homem- ainda são muito fortes.
Ela afirma que a figura da gueixa é tão simbólica quanto fantasiosa. "Isso vem de filmes feitos após a Segunda Guerra Mundial. O mito da gueixa é mito mesmo no Japão feudal. A gueixa correspondia a menos de 1% da população. A japonesa mesmo era a que trabalhava na roça", explica.
Para a fisioterapeuta Ludmila Figueiredo, 24, que nasceu em Salvador e pela primeira vez namora um oriental, "os descendentes são mais certinhos e mais machistas". "Eles são até mais machistas que os baianos, mas é diferente.
O Edson quer que eu estude duro, trabalhe, tenha a minha independência, mas não me deixa ir pra baladas sozinha com as minhas amigas", conta.
Edson Sassaki Jacintho, 27, advogado, defende-se: "A diferença é que os japoneses são mais fechados, e não mais isso ou menos aquilo. Somos mais tímidos, e muita gente confunde timidez com frieza".
Sua mãe, Junko, que preferiu romper com os costumes e se casar com um legítimo tipo brasileiro, é menos diplomática. "Meu marido lava a louça, arruma a cama. O homem japonês é mais resistente a fazer esse tipo de serviço. Meu pai nunca lavou uma louça", lembra.
Mulher na sombra
"As mulheres orientais são mais sinceras e, com certeza, mais fáceis de conviver. Também são mais companheiras. A minha fica preocupada com qualquer problema meu", elogia o farmacêutico Firoshi Shiguihara, 70, casado com a dona-de-casa Elza Shiguihara, 64, com quem tem três filhas.
"Para o homem se dar bem na vida, ele precisa de uma mulher ajudando, na sombra", elocubra Elza. Ela conta que as japonesas aprenderam a se adequar e até driblar o machismo dos maridos.
"Na minha casa, é assim: a última palavra quem dá é o pai. Ele dá a última palavra, mas antes eu já coloco a questão de um jeito que ele acaba decidindo o que eu decido."
A imagem do homem andando na frente da mulher com um bebê no colo e um monte de sacolas nos braços -um símbolo do machismo nipônico- ficou no passado, observa Elza.
"Entre os homens que vieram do Japão, isso era muito comum, e deixava os ocidentais chocados. Hoje, não acontece mais com freqüência."
Elza fala que "o homem descendente não é de fazer grandes demonstrações de afeto em público". "Não sinto falta de demonstrações de carinho em público. Pra que ficar mostrando para os outros?", questiona.
"Boa parte dos homens japoneses nunca beijou a mulher em público, nem no rosto. Eles não sabem nem paquerar, de tão reservados", diz a nutricionista Célia Sumaku Yoshisaki, 41, casada com o autônomo Marcelo Yoshisaki, 40, há 14 anos. Eles viveram oito anos no Japão, onde presenciaram a conduta amorosa nipônica.
Menos ousadas
As mulheres nipônicas são mais dedicadas aos maridos e mais reservadas que as ocidentais devido à tradição, de acordo com o psiquiatra Içami Tiba.
Apesar de todos os fatores pró-moças nipônicas, Tiba está casado há 39 anos com uma portuguesa. Seus pais, "bem tradicionais", ameaçaram não ir ao casamento. "Meus dois irmãos mais velhos casaram por "miyai", um casamento arranjado por alguém da comunidade.
Não queria ser escolhido, queria escolher minha mulher, então antes saí de casa", lembra. A antropóloga Célia Sakurai acredita que, com a passagem das gerações, aumente a diluição das diferenças.
"Há 20 anos, um ocidental olhava com nojo para a refeição de um japonês: "Credo, você come peixe cru?". Hoje, o peixe cru é moda.
O Brasil é um país multicultural e multiétnico, e os japoneses fazem parte desse cenário. Eles não são mais japoneses nem nunca serão. São agora a mistura do arroz e feijão com missoshiro, quibe e macarronada", aponta ela.
DÉBORA YURI é filha de japonês. Seu pai chegou ao Brasil em 1954
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