terça-feira, 17 de junho de 2008



Turma do Parcão na ponta dos cascos

Bigode, Canarim, Cimenti, Cláudio, Dico, Fedoca, Hugo, Kaku, Lindau, Marcos, Moschettinho, Newtinho e Niltão caminham no Parcão quase todos os dias, há anos, ao anoitecer.

Eles têm só quarenta e catorze, quarenta e vinte e dois, por aí, sabem que o tempo é só um ponto de vista dos relógios e que a idade é apenas um número. Todos estão ainda meio que no amanhecer da existência, bem de saúde física e mental.

Exagerando um pouco, só um pouco, dá para dizer que estão nas pontas dos cascos, mordendo os freios, de colas e orelhas alçadas, indóceis no partidor, rebentando as cercas e dando de relho nas tristezas da vida.

Os guris não têm medo do frio, falam de tudo um pouco, mas não ficam se exibindo uns pros outros, contando vantagens e mentiras, que não precisam de vaidades bestas. Enquanto observam o General, o Geleka, o Cantor Cabeludo, as bonitas e o Nana-Nenê nas aléias ensaibradas falam de futebol num Grenal verbal interminável, de política, de dinheiro (felizmente falam pouco disso), de novidades e, claro, de mulheres.

Bom, de mulheres também não precisam ficar falando muito, que os guris cancheiros são mais de ação do que de reflexão e preferem fazer a falar... Por certo de vez em quando, masculinamente, gostam de contar alguma coisa, mas, tipo assim, discretamente, que não são bobos de ficar dando, de graça, com a língua nos dentes.

A galera madura faz parte da Confraria Etílico-Gastrônomico-Filosófica da Comendador Caminha e se reúne não só no Parque. Barranco, Porto-Alegrense, Komka, Country Club, Listo, Café do Porto e outros cafés do Moinhos e casas de integrantes são locais de longas e gostosas reuniões, movidas a solidariedade, bebidas, comidas e conversas de fino trato.

Tudo na base de uma elegância rústico-chique tipo Punta ou Bali, que a turma não é chegada a frescuras demais.

Alguns querem mudar o nome da Confraria para Confraria do Comedor Caminha, mas esse assunto ainda está sendo analisado, debatido e discutido com toda a manha democrática, em sigilo, sem registros ou gravações, porque a turma tem absoluta consciência do grande poder que sua imagem e seu exemplo têm para as atuais e as futuras gerações.

A imagem da turma é profano-sagrada e, dizem, vale uma fortuna. Era até segredo, mas falam que tem umas multi aí que estão querendo associar suas marcas fulgurantes e globais ao poder de fogo dos rapazes.

Quando caminham galhardamente no Parcão, os guris parecem um pequeno exército invadindo espaços futuros, em busca de muitas, muitas emoções, bicho! A turma do Parcão pode ser parecida com outras, mas no fundo é única, pessoal, intransferível e se tornou, modéstia à pqp, um tesouro municipal, estadual, federal e universal.

Tombamento pela Unesco como patrimônio da humanidade? Para a turma do Parcão, nem o céu é o limite.

Jaime Cimenti
Ótima terça-feira ainda que com temperaturas abaixo de zero neste sul do Brasil

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