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sexta-feira, 27 de junho de 2008
27 de junho de 2008
N° 15645 - Paulo Sant'ana
O minhocão dos bebuns
Este será o segundo fim de semana da vigência da lei de tolerância zero para o álcool no sangue dos motoristas.
Os bares e restaurantes, inteiramente prejudicados pela nova lei, já estão bolando medidas para tornar seus negócios viáveis.
Poderão tanto instalar beliches para depositar os clientes que se embriagaram até que passem os porres quanto deverão organizar um sistema de transporte dos clientes embriagados para suas residências.
Seria uma linha circular de ônibus articulados, tipo minhocão, que cumpriria um sistema circular pela cidade, arrecadando de bar em bar, de restaurante em restaurante, de churrascaria em churrascaria, os clientes embriagados.
Os ônibus seriam dotados de macas, parece que estou vendo os clientes sendo retirados dos bares e restaurantes sob a vista de todos, de macas.
E sendo acondicionados todos eles em nichos, tipo prateleiras, dentro dos ônibus, que conterão desfibriladores e oxímetros, além de tubos de oxigênio que socorrerão os casos mais graves de embriaguez.
Os ônibus serão tripulados por enfermeiros titulados em primeiros socorros e síndromes etílicas.
Os libadores contumazes poderão se organizar em cooperativas de transporte dos bares e restaurantes para suas residências.
Pagarão uma mensalidade e terão direito a atendimento diário, tipo Ecco Salva. Telefonarão para a central de atendimento e darão a localização do estabelecimento em que se entregarão à beberagem, que serão visitados de hora em hora pelos enfermeiros, que verificarão se já ocorreu o nocaute dos bebedores, quando serão acionadas as macas e outros equipamentos.
Já está provado que as pessoas normais costumam ser moderadas na quantidade de álcool que ingerem em bares e restaurantes, justamente para se acautelarem do detalhe que terão de dirigir para voltar para casa.
Com a nova lei, como não poderão dirigir depois de beberem nos bares e restaurantes, em face de que terão atendimento médico nos ônibus coletores, afundarão em porres homéricos, na certeza de que serão entregues sãos e salvos em seus domicílios pelas equipes de socorros.
A lei, que parecia ter o condão de conter o consumo do álcool, pode afinal vir a expandi-lo.
Tendo a certeza de que se cercarão de todas as garantias médicas e de transporte para retornarem para suas casas após a libação, os bebedores sociais se transformarão logo em seguida em bêbados inveterados.
Pode sair o tiro pela culatra.
Desde que não dirijam.
Em zonas noturnas de altíssimo consumo de álcool, como a Rua Lima e Silva e adjacentes, a Rua Fernando Gomes, a Calçada da Fama, e adjacentes, a Rua Padre Chagas, haverá, em face do altíssimo número de bebuns que teimam em concentrar-se nesses pólos, estandes médicos equipados com UTIs e albergues, todos impeditivos de que os pacientes alcoolizados insistirem em dirigir.
Os próprios bares e restaurantes poderão adquirir bafômetros para examinar seus clientes, ir controlando-os aos poucos - e encaminhá-los para os serviços de atendimento e recolhimento competentes, conforme o índice de alcoolemia que apresentarem.
São apenas algumas das medidas que podem vir a ser adotadas às dezenas, para adaptação dessa nova lei repressora, que inaugura novos hábitos entre a população, os novos costumes que advirão com a revolucionária norma que está abolindo com os últimos prazeres das pessoas, que eram tomar um chope gelado num bar ou um vinhozinho nos restaurantes.
Nessa escalada regulatória, em breve será proibido beber em casa, no que por sinal farão muito bem os guardiões da ordem pública, pois não há nada mais sem graça do que beber em casa.
Sendo assim, vão ter que continuar saindo para beber na rua, se é que lhes permitem os legisladores esse prazer derradeiro.
Mas com o cuidado de não poder terminantemente voltar para casa dirigindo.
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