segunda-feira, 23 de junho de 2008



23 de junho de 2008
N° 15641 - Kledir Ramil


Leite de verdade

Quando eu era guri, o leite vinha em garrafas de vidro com uma tampinha de alumínio. Era um produto perecível, devia ser guardado em geladeira senão virava iogurte. Hoje, leite é vendido em uma embalagem chamada Tetra Pak que dá a ele uma longa vida. Minha fantasia era que tomando esse tipo de leite eu também teria uma vida longa. Ninguém garante.

Não sei se você já tomou leite de verdade. Tô falando de leite puro, tirado na hora. É uma experiência forte. Em geral, dá diarréia. A arte de tirar leite da vaca chama-se ordenha.

O cara senta num banquinho, agarra as tetas da mimosa e, como por milagre, faz esguichar um jato de leite fresquinho. Certa vez tentei ordenhar, mas não consegui. É um trabalho para especialistas. Depois, resolvi beber e passei mal. Sou um sujeito urbano, acostumado com leite de supermercado.

Dizem que o capitalismo começou quando o homem se deu conta que se botasse um pouco de água no leite teria um lucro maior. A partir daí, a coisa perdeu o controle.

O leite industrializado, apesar de cada vez mais aguado e cheio de conservantes, nos trouxe coisas boas como a embalagem prática e a pasteurização, processo que esteriliza alimentos.

O leite que sai da vaca é um líquido grosso, cheio de gordura. Essa, por sua vez, é usada para produzir os laticínios: queijo, manteiga, requeijão.

Depois que tiram a gordura do leite, sobra uma água ralinha que é o que vendem pra gente com o nome de leite desnatado. Certa vez, conversando com um executivo da indústria alimentícia, comentei que tomava leite integral. Sempre imaginei que seria um alimento mais completo.

Foi aí que fiquei sabendo que o leite integral também perde a nata, a gordura natural. É a mesma água ralinha, só que acrescida de um negócio chamado gordura trans, um produto artificial que dá a sensação de que o leite é mais encorpado.

Se você nunca ouvir falar em gordura trans pode começar a se preocupar, pois está presente na maioria dos alimentos empacotados. É um veneno.

Aumenta a taxa de colesterol e é um produto que nosso organismo não consegue digerir. Fica vagando pelo corpo até encontrar um lugar tranqüilo pra se acomodar. No meu caso, a barriga.

Não sei que tipo de leite você toma. Eu optei pelo desnatado, enquanto não compro uma vaca e aprendo a ordenhar. Nos primeiros dias vai me dar uma diarréia, mas tudo bem. Em relação aos outros alimentos, sei lá. Talvez eu tenha que ir morar no campo e começar a plantar.

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