segunda-feira, 16 de junho de 2008



16 de junho de 2008
N° 15634 - Luis Fernando Verissimo


Rir ou não rir

Casal de judeus americanos em visita a Israel entra num clube noturno de Tel Aviv onde se apresenta um cômico local. As piadas do cômico fazem grande sucesso com o público e quem ri mais do que todos é o americano. Sua mulher estranha. As piadas são em hebraico. O marido não sabe hebraico. Por que está rindo tanto?

- Por que não? - responde o marido. - Eu confio nesta gente!

Dependendo do jornal que você lê, e às vezes do analista num mesmo jornal, o otimismo com a situação do Brasil se justifica, é um delírio ou é um embuste. Poucas vezes na nossa história recente entender o que se passa dependeu tanto da predisposição, ou do preconceito, de cada um.

A economia do país raramente esteve tão bem, nunca se comprou tanto carro e casa própria, estamos finalmente a caminho de ter um bendito mercado interno para sustentar nosso desenvolvimento - ou a caminho do caos. Você decide. Os números não provam nada, ou provam tudo, o que dá no mesmo.

Uma correta avaliação é improvável, já que os profissionais da avaliação se contradizem. Os fatos não influem muito na decisão de ser otimista ou catastrófico. Ou seja: saber hebraico é secundário. Para rir ou não rir das piadas, basta confiar ou não confiar em quem está rindo.

Fofoca

Com Barack Obama definido como candidato dos democratas à Casa Branca, espera-se para qualquer momento não um atentado contra ele mas uma fofoca sexual, que nos Estados Unidos também costuma ser uma arma. Em países latinos, as revelações sexuais não têm o mesmo efeito, portanto não têm o mesmo risco político.

A filha que o Mitterrand tinha com sua amante foi motivo apenas de curiosidade, e de afetuosa surpresa com um pecado menor do velho, e não prejudicaria sua carreira política mesmo se tivesse aparecido antes.

E o boato de que o Chirac era amante da Claudia Cardinale só aumentou sua reputação. No Brasil existe um imenso lençol subterrâneo, se este é o termo, de indiscrições conhecidas do poder que nunca vêm à superfície. Tipo todo o mundo sabe mas ninguém publica.

O que é saudável, já que a vida particular do político só é relevante quando revela falhas de caráter que afetarão o nosso bolso, como uma tara por dinheiro público, e qual é o problema de namorar um pouco se ajuda a relaxar e até a governar e legislar melhor, desde que a patroa não fique sabendo? Mas há quem diga que a falta de inconfidências no mercado se deve a uma insuficiência do nosso setor editorial, que ainda não pôde fazer ofertas convincentes.

Quando morreu "Buddy", o labrador dos Clinton, talvez o cachorro com mais histórias para contar do mundo, suspeitou-se que o atropelamento se devesse aos rumores de um contrato milionário para publicar um livro seu, título provável "Memórias da Casa Branca, ou Babando no tapete do Salão Oval".

"Buddy", presumivelmente, estava presente nos encontros de Clinton com estagiárias para fins não reprodutivos. Inconfidências de assessores, empregados, amantes etc. são um risco constante para dirigentes americanos e ingleses, incluindo até a família real - no caso dos Estados Unidos, os Kennedy.

As revelações podem ser moderadamente embaraçosas (como a da atriz Angie Dickenson, que descreveu seu caso com John Kennedy como "os 15 segundos mais memoráveis da minha vida") ou podem acabar com reputações para sempre.

Do Bush nunca se soube nada, salvo os atos antinaturais que praticou com o país. Do Barack Obama, devem estar catando.

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