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domingo, 29 de junho de 2008
Editorial Folha 29/06/08
Menos crescimento
A escalada dos preços dos bens primários poderá provocar uma redução mais intensa e longa do crescimento global.
O MOVIMENTO de alta dos preços internacionais dos produtos primários prosseguiu nas últimas semanas, agravando as pressões sobre a inflação em todo o globo.
A cotação do petróleo chegou à vizinhança de US$ 140 por barril. Foram anunciados novos aumentos pronunciados de insumos, com destaque para o minério de ferro. E as cotações de vários alimentos -sob o impacto, entre outros fatores, das enchentes em importantes regiões produtoras dos EUA- voltaram a repicar com força.
Continua intenso, e inconclusivo, o debate acerca das forças que têm impulsionado esse movimento febril dos preços dos produtos primários.
Alguns enfatizam o aumento da demanda, outros o nível reduzido dos estoques e perturbações que prejudicam a oferta de vários produtos. E uma proporção crescente dos analistas vê a influência da busca, por parte de grandes investidores, de alternativas de aplicação financeira ante o enfraquecimento do dólar e o nível reduzido dos juros básicos dos EUA.
Independentemente de suas causas efetivas -que muito provavelmente abarcam doses variadas dos fatores citados-, a nova rodada de alta das cotações das principais commodities provocou uma piora adicional das perspectivas para a inflação.
E isso vem resultando numa percepção cada vez mais difundida de que, em nível global, o crescimento da atividade econômica deverá desacelerar de maneira mais intensa, e talvez por um período mais prolongado, do que até há pouco se esperava.
Os bancos centrais dos países emergentes já há algum tempo vêm aumentando suas taxas de juros visando a moderar a inflação. O Banco Central Europeu dá mostras de que cogita segui-los, talvez logo. A autoridade monetária que mais reluta em pisar no freio é, compreensivelmente, a dos Estados Unidos.
Até o final de abril o Federal Reserve (Fed) vinha promovendo sucessivos cortes agressivos de juros para amenizar a crise no mercado de hipotecas de alto risco e a fragilização dos bancos e seguradoras a ela associada.
Em sua reunião de quarta-feira passada, o Fed, reconhecendo o agravamento dos riscos pelo lado da inflação, interrompeu os cortes. Mas, constrangido pelo receio de reacender as desconfianças quanto à solidez dos bancos, ele evitou sinalizar que pretende aumentar os juros em breve.
A redução do raio de manobra das autoridades econômicas dos EUA é evidente. Mas, no Brasil, em comparação a um passado relativamente recente, observa-se o inverso.
A redução da vulnerabilidade das contas externas tem permitido ao país enfrentar as novas intempéries globais sem sobressaltos dramáticos. Mesmo que essas intempéries se prolonguem, cabe esperar uma moderação, mas não uma interrupção, do crescimento.
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