quarta-feira, 25 de junho de 2008



25 de junho de 2008
N° 15643 - Paulo Sant'ana


Noite de São João

Ontem e anteontem, era noite de São João. Atravessei a cidade inteira e não vi uma só fogueira de São João.

E me senti infeliz, e constatei o quanto nós somos infelizes: nenhuma fogueira de São João. Eram milhares de fogueiras de São João na nossa infância em Porto Alegre.

Esperávamos ansiosos pela noite de São João, as mães preparavam os doces, compravam pinhões, as rapaduras, as pipocas, os amendoins, o quentão, até que chegava a grande noite.

Podia-se ver numa só rua várias fogueiras, que eram acesas alternadamente, quando queimava uma, a gente ia assistir ao fogo da outra, uma noite inteira de festas, de bombas, de busca-pés, de triquetraques, de rojões, confraternizações, de correrias, de brincadeiras arrabaldinas que nunca mais vão sair de nossa memória.

Encantadora época dos nossos sonhos infantis, todos pulando as fogueiras, a provar que a verdadeira felicidade reside nas coisas mais simples e singelas. Como éramos felizes nas festas juninas e na malhação de Judas, outra festa desaparecida tristemente do nosso folclore!

Doeu no meu coração ter atravessado a cidade ontem sem avistar sequer uma fogueira de São João.

O nosso encantamento, as nossas esperanças, a nossa alegria foram sepultadas pelo progresso e pela fúria imobiliária.

Nós somos infelizes e não nos apercebemos.

Sei ainda de cor, do grande Lupicínio Rodrigues e que foi gravada por Francisco Alves, a notável canção Pra São João Decidir:

Naquele dia levantei de madrugada
Porque na noite passada
Eu não consegui dormir
Rosinha disse que ia pôr num papelzinho
O meu nome e o do vizinho
Pra São João decidir
O que estivesse de manhã mais orvalhado
Ia ser seu namorado
Ia consigo casar
E eu tinha tanta confiança no meu santo
Que apostei um conto e tanto
Como era eu que ia ganhar
Sabe o que foi que aconteceu no dia
Vi foguete que explodia
Busca-pé, bomba-rojão
Era o vizinho que já tinha triunfado
Festejando entusiasmado
O dia de São João
Então de noite foi mais grossa a brincadeira
Acendeu-se uma fogueira
Todo mundo foi pular
Só eu chorando a traição daquele santo
Soluçava no meu canto
Vendo a lenha se queimar.

Pensamento de Wianey Carlet, na Gaúcha, ontem: "No tempo de Abel, formou-se uma panelinha entre os jogadores, dirigentes não apitavam lá. O Inter era administrado como se fosse um presídio. Dirigentes não entravam na galeria".

Frase do comentarista Cláudio Cabral, da Band: "No Brasileirão, o empate é irmão gêmeo da derrota".

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