terça-feira, 24 de junho de 2008



24 de junho de 2008
N° 15642 - Luís Augusto Fischer


Metz, Ramil, Alabarse

Brincando, brincando, já são 12 invernos desde a morte do Luiz Sérgio Metz, vulgo Jacaré, um brilhante talento do texto que morreu deixando obra interessante, que prometia muito mais ainda. Seu Assim na Terra, que só teve uma edição - e não foi por falta de batalha deste leitor aqui - , ganha ressonâncias novas, com o passar do tempo.

Agora mesmo, em função de um estudo que está sendo feito sobre sua obra, andei relendo longos trechos do livro e continuei achando que sua qualidade é superior. Pouco lida, a obra do velho e bom Jacaré tem a vizinhança estranha de outros livros de grande inventividade e ótima fatura que não ganharam lugar na estante dos clássicos, como deviam.

Em outra parte desse mesmo mapa anda a obra do Vitor Ramil escritor. Sua primeira novela, Pequod, foi editada duas vezes e recebeu alguma leitura, mas também menos do que merece. Agora, para sua alegria e para justiça cósmica, vem à luz sua segunda narrativa longa, Satolep, com edição luxuosa da Cosacnaify.

Já tinha lido o texto em uma versão anterior, e agora o releio com deleite, para constatar que também na literatura Vitor é um artista exigente, consigo e com o público, não concedendo facilidades que poderiam talvez levá-lo a um prestígio mais imediato, mas é também um artista recompensador, oferecendo uma larga paga pelo empenho com que seus admiradores freqüentam sua obra.

Metz e Ramil, como outros artistas do Estado (daria pra lembrar gente diferente e igualmente talentosa como Nelson Coelho de Castro, Cláudio Levitan, Paulo Ribeiro ou Arthur de Faria), em parte dependem do inverno, para existirem e serem apreciados.

Com eles não tem como a gente estar à beira da praia com 30º; é preciso haver nem que seja uma simulação de fogo aceso, e o melhor é que a temperatura não exceda os 18ºC. Vinho acompanha melhor que cerveja.

Essa companhia toda só faz crescer o valor do trabalho de outro artista invernal, Luciano Alabarse, que vem de mais uma façanha agora, com seu Édipo montado como teatrão, produção de grande nível, elenco ótimo, direção certeira e, para gosto de quem assiste mas nem se dá conta, maturidade intelectual em cada milímetro da concepção e da encenação.

Nem gostei tanto da trilha sonora, com os Rolling Stones, que abre uma dissonância estética abismal entre si e aquele mundo representado ali; mas isso não é o principal.

O que importa mesmo é haver por perto um encenador como ele, igualmente dinâmico, ousado e maduro.

Nenhum comentário: