sábado, 21 de junho de 2008



21 de junho de 2008
N° 15639 - Nilson Souza


Madrastas

O filme Branca de Neve e os Sete Anões acaba de ser escolhido o primeiro de seu gênero pelo Instituto de Cinema Americano, que divulgou esta semana o ranking das cem melhores obras cinematográficas dos últimos cem anos.

O cinema deu forma, cores e a emoção do movimento a esta que é uma das mais fantásticas histórias infantis de todos os tempos, recolhida pelos irmãos Grimm na memória popular alemã, mas de origem desconhecida.

É uma fábula cheia de mensagens positivas, mas com uma terrível maldição que perdura até hoje: a rotulação das madrastas como pessoas más e invejosas.

Branca de Neve é linda e ingênua, os anões são trabalhadores e simpáticos, o príncipe é valente e generoso, mas o personagem mais marcante da história é mesmo a rainha, com seu espelho mágico, seu ciúme e sua maçã envenenada.

É em torno dela que a trama gira. Na ânsia doentia de ser mais bela do que a enteada, ela se transforma em bruxa e abre a caixa de maldades.

Nenhuma é bem-sucedida, pois até o sono eterno acaba sendo interrompido pelo beijo de Sua Alteza. Mas o estereótipo ficou: madrasta virou sinônimo de mulher má. O Aurelião chega a usar um palavrão para definir o termo: mulher ou mãe descaroável. Credo!

Pois bem, os costumes mudaram e hoje cada família tem uma ou mais madrastas, pois as pessoas casam-se, descasam-se, recasam-se, e as crianças crescem convivendo com homens e mulheres que nem sempre são os seus pais biológicos.

Neste contubérnio moderno, muitas mães emprestadas, certamente a absoluta maioria, desmentem o rótulo, são carinhosas, cuidam bem dos filhos das outras mulheres, amam e se esforçam para serem amadas.

Para driblar o estigma, algumas preferem ser chamadas de tias, de amigas, de qualquer coisa que não lembre a denominação infamante. Ainda que de vez em quando uma ou outra encarne o espírito da bruxa má, são exceções.

Quase todas que conheço fazem o possível para vencer a maldição, dedicam-se de corpo e alma à conquista dos enteados e ficam felizes quando recebem um retorno em carinho e reconhecimento. São umas injustiçadas as madrastas.

Mereciam, no mínimo, que a história fosse reescrita e que o filme festejado recebesse uma continuação, para a qual permito-me imaginar um final feliz. Uma criança beija a bruxa e o feitiço se desfaz: todos nós acordamos e paramos de estigmatizar estas segundas mães.

Ótimo sábado excelente fim de semana especialmente para você.

Nenhum comentário: