sábado, 21 de junho de 2008


Ruth de Aquino, de Pequim

Especial China - A nova superpotência

ÉPOCA foi a Pequim, Xangai e a vilarejos rurais para entender esse país que atrai de empresas a jovens estrangeiros em busca do mundo novo. Nesta reportagem e na série que publicaremos até as Olimpíadas de Pequim, tentaremos desvendar o mistério chinês

Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 23/junho/2008.

Assinantes têm acesso à íntegra no leia mais no final da página.

CONTRASTE

As gêmeas Huizi (à esq.) e Liangzi, de 18 anos, vivem num campus universitário em Pequim. Huizi se veste assim e pinta cada unha com esmalte de cor diferente. Liangzi foi produzida para lembrar a China antiga. Como todas as jovens urbanas, não querem casar antes dos 30 anosQuando as gêmeas nasceram, há 18 anos, na província de Liaoning, no nordeste chinês, seus pais se sentiram abençoados.

Era como tirar a sorte num país que proíbe mais de um filho. Ter gêmeos era uma forma de driblar legalmente o decreto governamental que criou na China uma geração de 90 milhões de filhos únicos – estudiosos, trabalhadores, competitivos, patriotas e orgulhosos de ser chineses.

Num país de mais de 5 mil anos, regido mais pela superstição que pela religião, os pais deram às filhas os nomes de Chen Huizi e Chen Liangzi. Chen é o sobrenome das gêmeas (na China, o nome de família vem em primeiro lugar). Huizi significa “filha inteligente”, e Liangzi “filha de bom coração”.

Elas tinham 17 meses quando seus pais se divorciaram. O divórcio ainda é um tabu tão forte na China que as duas mentiram para mim num primeiro momento: disseram que o pai havia morrido. Como os jovens do interior, de família pobre com alguma posse, Huizi e Liangzi foram enviadas a Pequim para estudar na universidade. Dormem com mais quatro estudantes.

Não usam celular porque a mãe acha caras as tarifas. São exceção. Há mais de 540 milhões de celulares na China. As gêmeas querem ser aeromoças. “Para aprender etiqueta, saber comer com garfo e faca e voar no céu”, diz Huizi, cinco minutos mais velha que Liangzi. Não sonham casar tão cedo. Acham a vida de casada um tédio.

Sua diversão maior é cantar nos karaokês, numa das centenas de salas fechadas e computadorizadas, em prédios da rede Party World, onde imitam suas cantoras favoritas: a coreana Cai Yan ou a banda S.H.E, de Taiwan.

As duas irmãs acham o presidente, Hu Jintao, e o primeiro-ministro, Wen Jiabao, “boas pessoas, que se preocupam com os pobres e os velhos”. Sabem que a internet é filtrada por dezenas de milhares de censores, mas não se importam. “A internet é proibida”, diz a “filha inteligente”. Elas não têm televisão. Devem assistir às Olimpíadas na TV comum da universidade.

Não imaginavam que os Jogos já custaram ao país US$ 34 bilhões, nem avaliam quanto isso significa, porque recebem 600 iuanes de mesada (US$ 90). Sabem que a festa olímpica vai começar no dia 8 do mês 8 de 2008, porque o número oito tem o som de “prosperidade” no mandarim, idioma chinês.

Encontrei Huizi, a “inteligente”, ao lado de uma escola de wushu, conjunto das artes marciais chinesas, à espera do namorado. Estava vestida como posou para a foto ao lado, um visual pop.

Sua irmã foi produzida num longo de seda vermelho da estilista Gu Lin. Nos trajes, a convivência entre o novo e o antigo na China borbulhante de hoje. O calor era tão intenso em Pequim que cobrou um preço sobre a magreza etérea das moças. Liangzi, a “de bom coração”, desmaiou na sessão de fotos na rua.

Para as gêmeas, que vivem num país onde filmes com sexo, livros políticos e shows de rock americano são proibidos, o Ocidente é sinônimo de “mistério”. Para nós, ocidentais, a China é exatamente o mesmo.

Um mistério. Na China, um carro é registrado a cada seis segundos. Cidades brotam como cogumelos. Arranha-céus sobem como aspargos no horizonte.

A China é um caleidoscópio que confunde, irrita e fascina. Tudo impressiona pela magnitude. São quase 10 milhões de quilômetros quadrados, 1,3 bilhão de habitantes, um quinto da população mundial. São 56 etnias, mas 92% pertencem à etnia Han. O idioma oficial, o mandarim, tem 80 mil caracteres.

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