ELIANE
CANTANHÊDE
Murro em ponta de faca
BRASÍLIA
- Poderia até ser engraçado, mas é apenas um dado de análise: a situação política
de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, tem lá suas semelhanças com a de
Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul, em 1929.
Ambos
governadores. Ambos aliados ao governo federal, Campos ao de Dilma, Getúlio ao
de Washington Luís. Ambos candidatos à Presidência da República à revelia dos
palácios (Planalto hoje, Catete antes). Ambos numa luta infernal para atrair
apoios e evitar que potenciais aliados escorreguem pelos dedos.
A
campanha de Eduardo Campos repete até a montanha-russa das emoções da de Getúlio,
na base do "cada dia sua agonia". Ora avança firmemente, ora recua
estrategicamente. Ora parece arregimentar apoios inusitados, ora perde apoios considerados
óbvios, naturais.
Ao
longo do processo, é claro que o humor vai e volta, o coração dispara, as
surpresas se acumulam e a dúvida persegue a candidatura do início ao fim: seria
Getúlio realmente candidato? Irá Eduardo Campos subir mesmo nos palanques?
A
primeira providência de Campos, como fez Getúlio, é tentar cimentar uma aliança
sólida no próprio Estado. Até por isso seu vice troca o PDT pelo PSB e o
senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) engoliu em seco, superando velhas divergências
para apoiá-lo em 2014.
A
segunda providência é se tornar a opção do próprio partido e a terceira é extrapolar
alianças e apoios para além de Pernambuco. Mas nada disso é fácil. Getúlio viu
os presidentes estaduais (ou governadores) pularem no barco governista, um a um,
sem ter meios para impedir. Chegou ao final com o RS, Paraíba e Minas -- que,
aliás, não entregou a mercadoria, ou seja, os votos.
Hoje,
dos seis governadores do PSB (incluindo Campos), pelo menos três são a favor da
reeleição da presidente Dilma. E, se nem os do PSB vêm com ele, por que outros
viriam? Só se a economia empurrar.
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