sábado, 8 de junho de 2013


08 de junho de 2013 | N° 17456
CLÁUDIA LAITANO

Nove minutos

O que se faz em nove minutos? Nada? Muita coisa? O suficiente? Renato Russo nos convida a parar para ouvir até o fim uma canção em longa-metragem. Faroeste Caboclo foi sucesso nas rádios contrariando o senso comum – e nas rodinhas de violão desafiando a memória e o fôlego dos fãs.

A saga de João de Santo Cristo no coração do Brasil chega ao cinema em uma época em que uma canção de nove minutos soa ainda mais excêntrica do que há 25 anos, quando foi lançada. Se Faroeste Caboclo, a música, tivesse sido gravada em 2013 é possível que boa parte dos ouvintes não chegasse até o último verso sem ser atraído por algum outro tipo de estímulo – uma mensagem no telefone, a urgência autoimposta de ler/assistir/comentar/partilhar outra coisa durante aqueles intermináveis 540 segundos ou apenas a falta de paciência para acompanhar até o fim o desenrolar de uma história que não se entrega no refrão.

Nove minutos são hoje uma eternidade – mais do que muita gente dedica a um interlocutor (mãe, amigo, amante...) antes de desviar o olhar para baixo e checar a última novidade no celular. Todas as formas de consumo de conhecimento/entretenimento/informação, sem falar dos relacionamentos sociais, estão sendo impactadas por esse tipo de atenção “fast forward” que estamos dedicando ao que está em volta – animal, vegetal ou cultural.

A dificuldade de foco é mais notável, obviamente, na geração que nasceu mergulhada na infinita oferta de estímulos da internet. Para adolescentes e jovens adultos, é apenas natural ouvir alguns segundos de uma música antes de pular para a próxima, tornando anacrônica não só a experiência de escutar um disco do começo ao fim, mas uma única música inteira do primeiro ao último acorde – por mais que se goste dela.

O zapping mental aparece cada vez mais nos hábitos de consumo cultural dos adultos também. Estudos de fluxo de leitura online revelam que quando alguém se interessa suficientemente por um texto para percorrer as primeiras linhas, muito raramente chega até o final. Mesmo quando o texto parece tão interessante a ponto de ser compartilhado antes do final da leitura – que acontece, em geral, na metade do texto. (Ou seja: se você chegou até aqui, muito obrigada pela companhia. Você é um forte.)

Talvez esteja no tempo de fruição uma das grandes diferenças que vai se estabelecer entre o consumo online – múltiplo, superficial – e as experiências oferecidas pelos suportes físicos (o texto no papel, o disco que se pega na mão, o filme no cinema).


É bom saber que em nove minutos podemos dar a volta ao mundo, mordiscando uma infinidade de assuntos, mas talvez cada vez mais pessoas comecem a descobrir como pode ser revolucionário ter tempo (e vontade) para repousar nossa atenção em uma única coisa de cada vez.

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