04
de junho de 2013 | N° 11702
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
História da matemática
Minha
praia é a literatura, que estudo e leciono regularmente. Mas não posso alegar
inocência total em matéria de matemática, porque gosto do campo e porque
estudei um pouco, em outra encarnação.
Isso
me leva a ler, de vez em quando, livros sobre matemática, e calhou de encontrar
uma instigante História da Matemática – Uma Visão Crítica, Desfazendo Mitos e
Lendas (Zahar), de Tatiana Roque, professora da UFRJ, especialista no ramo e
experiente pesquisadora de história da ciência. Tropeço em muitas partes, fico
boiando em momentos de demonstração; mas também vibro com a argumentação e com
descobertas, que sempre ocorrem.
Sou
um fascinado por história, qualquer uma, em especial a da literatura, de forma
que leio estudos historiográficos de qualquer área sempre com esse interesse
por debaixo. E aqui a autora se encarrega de mostrar, com paciência e texto
seguro, o quanto há de construção histórica nas descrições aparentemente
neutras do desenvolvimento da matemática.
Um
dos alvos centrais do livro é a fantasia de que a Europa é a única a ter
desenvolvido matemática de verdade, sendo ela também, na mesma fantasia, a
herdeira natural de fases anteriores, dos conhecimentos mesopotâmicos e gregos.
A autora relata a história tradicional, mistificadora, e argui os fatos com
cautela e ótima informação.
Mas
o legal mesmo, para o leitor vadio que sou, é descobrir pérolas pelo caminho.
Uma delas: ao repassar a história do indiano Baskhara (sim, o da fórmula
aquela), o livro mostra em linguagem algébrica moderna aquela coisa toda, e
depois reproduz o exemplo de um antigo livro indiano.
Assim,
depois da aridez dos x, y e z, diz o exemplo: “De um enxame de abelhas, tome a
metade, depois a raiz. Esse grupo extrai o pólen de um campo de jasmins. Oito
nonos flutuam pelo céu. Uma abelha solitária escuta seu macho zumbir sobre uma
flor de lótus. Atraído pela fragrância, ele tinha se deixado aprisionar na
noite anterior. Quantas abelhas havia no enxame?”
Não
é uma beleza? Toda uma ficção, com traços poéticos, para apresentar problemas
matemáticos. (O resultado, para quem se interessa: são 72 abelhas, no total.)
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