segunda-feira, 7 de maio de 2012



O tango de Tibério e Lola

Estavam dançando um tango: quando ele ia, ela recuava, quando ele recuava, ela vinha

O amor é um tango. Hoje vou contar uma história de amor que ouvi de alguém esses dias. Esta história é real e nos faz pensar, afinal, quem somos nós.

Tibério era um jovem promissor. De boa família e com bons antecedentes, era visto como alguém inteligente, vivo e alegre. Vivia sua vida, numa casa de classe A, quando, numa noite de calor, viu alguém chegar à vizinhança. Loira, naquela idade que as avós chamavam de menina-moça, mesmo que ainda novinha, já se mostrava pronta para um investimento erótico.

Lola passeava pela vizinhança, livre e senhora de si, como são as fêmeas da espécie quando seguras de sua beleza e de seu charme. Para o coração do jovem Tibério, aquilo foi demais.

Ficou obcecado por Lola. Tentou voltar para sua vida pré-Lola, mas não adiantou. Nada do que tinha fazia mais sentido, pensava naquela jovem loira todo o tempo. Ficava parado olhando para parede, como se sua casa, sua vida e seus objetos de valor tivessem se esvaziado de sentido. Se Tibério soubesse filosofia, diria que a vida perdera o significado.

Ele era ainda virgem. No fundo da alma, se envergonhava disso e preferia que este fato permanecesse em segredo.

Mas, de repente, tomou uma decisão e resolveu abordar a bela e irresistível Lola, a loira arrasadora do "cartier", como dizem os franceses. Quem sabe, pensou Tibério no silêncio de sua alma, ela fosse, ainda que jovem e virgem, uma loira devassa em potencial? Pelo caminhar dela, balançando, ainda que discretamente, as promissoras ancas, ele pensou que tinha alguma chance.

Chegou perto e tentou falar com ela. Nada. Aquele olhar de desprezo que só fêmeas lindas da espécie sabem dar quando percebem que algum jovem candidato está por perto. Mas, percebia Tibério, Lola o olhava pelo canto dos olhos.

Tibério tinha razão. Ela estava dando sinais de interesse. Aproximou-se e tentou chegar bem pertinho. Lola, literalmente rosnou para ele. De primeira, Tibério temeu que ela o fosse morder de fato.

Tibério correu para casa, temeroso. Mas o desejo era grande, e Lola seguramente o olhava de longe, com olhos doces. Todos os seus genes ancestrais diziam: "Tibério, vá fundo, cara!".

O jovem voltou à carga. Pensou naquilo que todo macho pensa: "Ela quer um presente!". Não tinha nada à mão e, infelizmente, dependia da sua família para ir a um shopping, portanto teve uma ideia desesperada: "Vou dar para ela o que eu mais gosto e assim ela vai ver que eu quero muito ficar com ela".

Correu e pegou um objeto (pouco importa o que era, mas sim o valor que tinha para ele; de longe alguém diria que não passava de uma bola). Colocou carinhosamente o objeto diante da bela Lola. Ela, de novo, desprezou o infeliz Werther. Recuou. De longe, de novo, percebeu o discreto sorriso da bela Lola. Ela estava mesmo dançando um tango com ele: quando ele ia, ela recuava, quando ele recuava, ela vinha.

Uma dor grande se apoderou do pobre coração apaixonado. Mas, de novo, seus genes clamavam pela jovem Lola. Decidiu fazer-se de macho poderoso do pedaço e se aproximou confiante.

De repente, assim como quem ia roubar um beijo e um abraço, Tibério tentou se apossar de Lola. Ela, agora sem dúvida nenhuma, rosnou e o mordeu sem pena.

Tibério fugiu humilhado. Perdido, tentou comer alguma coisa. Mas, de novo tomado pelo amor, pensou se Lola não o aceitaria em troca de sua comida importada, mesmo que por um segundo tivesse pensado que aquilo não eram modos de abordar uma dama fina como Lola.

Docemente, ele empurrou a comida para ela. Lola comeu a comida dele e virou de costas. Tibério ficou arrasado e sentou-se, triste, enquanto a contemplava pela porta de vidro. Lola olhou para ele e ensaiou um sorriso, mas não adiantou. Tibério já estava triste e adormeceu. No dia seguinte, à mesma hora que Lola chegara, reconhecendo o carro, correu para o porta-malas para ver se a bela Lola voltara. Mas não.

Alguém perguntará: como uma bela dama pode vir num porta-malas? Simples: basta ela ser uma golden retriever, e ele, um border collie.

Sim, o amor é um tango, seja entre humanos, seja entre cães.

ponde.folha@uol.com.br

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