09
de maio de 2012 | N° 17064
PAULO
SANT’ANA
A utilidade da corrupção
Estive
pensando intensamente: se é impossível governar-se em Brasília sem maioria no
Congresso, se maioria no Congresso só se consegue subornando o Congresso, se
verbas espúrias financiam esse suborno, se a corrupção se transfere para os
ministérios conseguidos pelos aliados, então a governabilidade é nutrida pela
corrupção.
A
conclusão é de que a provedora, a sustentadora da democracia brasileira, é a
corrupção.
Em
outras palavras, a corrupção no Brasil tem um papel decisivo para a existência
da democracia.
Escrevi
na semana passada que o certo e o justo é o que acontece com os magistrados
estaduais gaúchos, que todos os anos recebem, infalivelmente, aumentos em seus
salários para enfrentar a inflação maquiada pelo governo.
E não
era certo que os funcionários públicos estaduais não tivessem da mesma forma
seus vencimentos reajustados todos os anos, miserabilizando-se.
Escreveu-me
a respeito o presidente da Associação dos Juízes do RS (Ajuris), o que em
respeito à classe transcrevo:
“Caro
Paulo Sant’Ana
Como
costuma acontecer nos temas que analisas, a tua coluna desta sexta-feira tocou
num ponto fulcral para o serviço público: a defasagem salarial que atinge os
servidores e sucateia a mão de obra do Estado.
Para
algumas categorias, como professores e policiais civis e militares, tal
defasagem é muito visível, mas não há como ignorar que ela atinge
indistintamente todos os servidores. Insurgir-se contra esse quadro é uma
obrigação de todos, não só por solidariedade a esses trabalhadores, mas também
porque um serviço público de qualidade só pode ser prestado por quem tenha
remuneração condigna.
Por
outro lado, gostaria de fazer um reparo à tua manifestação. Do mesmo modo como
o faz em relação aos vencimentos dos servidores públicos, a Constituição
assegura aos magistrados e demais integrantes de carreiras de Estado a revisão
geral anual dos subsídios.
O
problema é que essa garantia constitucional não é respeitada, e desde 2009 não
há lei federal que assegure o reajuste de subsídio. Como os subsídios em nível
estadual ficam vinculados aos dos ministros do STF, também no Rio Grande do Sul
não há reajuste. Pior que isso: o Executivo Federal conseguiu excluir a previsão
de reajuste do orçamento de 2012.
É de
se notar que a instituição do subsídio se deu com a exclusão do adicional por
tempo de serviço, o que fez com que os magistrados avançados na carreira
ficassem com seus ganhos inalterados. Com isso, desde 2005 os magistrados mais
antigos têm sua remuneração praticamente congelada e desde 2009 não ocorre nenhum
reajuste para a magistratura.
Ademais,
se na base o funcionalismo gaúcho está em desvantagem em relação aos outros
Estados, o mesmo ocorre com os juízes: a magistratura de primeiro grau do Rio
Grande do Sul, empatada com a de seis Estados do Norte e Nordeste, é a pior
remunerada do Brasil.
Um
juiz gaúcho só terá remuneração igual à dos magistrados dos demais Estados
quando chegar ao topo da carreira, como desembargador. A defasagem remuneratória
da magistratura de nosso Estado faz com que aumente a possibilidade de que gaúchos
talentosos e preparados procurem outras paragens para exercer a função de juiz.
Veja,
portanto, que nosso apoio às reivindicações das outras categorias não pode se
dar sem que digamos que a magistratura do nosso Estado padece igualmente da
falta de reajustes e de defasagem em relação ao que recebem os juízes dos
outros Estados.
Atenciosamente,
(ass.) Pio Giovani Dresch – presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande
do Sul”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário