quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011



03 de fevereiro de 2011 | N° 16600
LETICIA WIERZCHOWSKI


Por que se escreve?

Faz alguns dias, o jornal argentino La Nacion publicou em seu caderno de Cultura uma bela matéria com o título Por que escribimos? Em seis saborosas laudas, dezenas de escritores contavam os motivos que os faziam escrever e escrever ao longo de toda uma vida. Ficcionistas de muitos países tentavam nomear aquilo que os levou a criar histórias ou simplesmente registrá-las – a vocação, o prazer da leitura, o medo do passado, o medo do futuro, o dinheiro, a timidez, a compulsão…

Os motivos – que são vários – alcançam do poético ao prático. Assim como suas obras, seus depoimentos fazem rir e emocionam.

Afinal de contas: para que escrever? Para que contar? Para que lembrar?

“Escrevo porque não sei escrever”, diz o modestíssimo John Banville, autor de uma das minhas leituras inesquecíveis, O Mar. Carlos Fuentes respondeu à pergunta com uma outra: “Por que respiro?” Nélida Piñon conta que escreve “para ganhar um salvo-conduto com o qual deambular pelo labirinto humano”.

“Porque eu gosto”, contestou simplesmente o grande Umberto Eco. O espanhol Javier Marías ponderou que escreve para não ter chefe e não ser obrigado a madrugar. Também porque não existem muitas coisas mais que ele saiba realmente fazer. Javier Marías também escreve para não dever quase nada à ninguém e não precisar saudar àqueles a quem não deseja.

Rosa Montero confessou: “Escrevo porque, enquanto eu o faço, me sinto tão cheia de vida que a minha morte não existe: enquanto escrevo, sou intocável e eterna.”

Mario Vargas Llosa respondeu longamente. E diz que escreve, acima de tudo, porque é um ávido leitor. A experiência da leitura causou-lhe tão grandes e fantásticas transformações que a sua vocação literária foi quase uma espécie de “transpiração” da sua vida de leitor.

Alberto Manguel escreve porque não sabe dançar o tango, nem resolver problemas matemáticos, ou jogar rugby. Porque não faz vinho, nem é médico, não patina, não costura, não joga xadrez e, tampouco, restaura quadros venezianos. Use Lahoz diz “escrevo porque aprendo”. E John Boyne “escreve porque encanta-lhe a sensação de ter um livro nas mãos e um livro em sua cabeça”.

Enfim, como disse Flaubert, “escrever é uma maneira de viver”. E, se alguns escrevem, outros tantos leem. O verbo, como um fio invisível e perene, a todos nos une, afinal de contas.

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