Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
05 de fevereiro de 2011 | N° 16602
CLÁUDIA LAITANO
E o Keko?
Alguns dos melhores textos que eu já li foram escritos na primeira pessoa – e alguns dos piores também.
A autoexposição gera tanto a obra-prima (Os Ensaios de Montaigne, para citar o sujeito que mais ou menos inventou o negócio de escrever sobre si próprio e mostrou até onde esse tipo de investigação íntima poderia levar um autor genial) quanto o bom e velho papo-furado, aquele tipo de revelação pessoal que extrai do leitor nenhuma emoção além da vergonha alheia e uma única pergunta em tom de exclamação: “E o Keko?”.
A narrativa íntima e pessoal atrai nossa atenção como um buraco de fechadura. Não interessa se o que está acontecendo do outro lado da porta é uma cena de paixão ou uma reunião de executivos de uma multinacional.
Se a história for contada, com a devida graça, por um observador inteligente e articulado, nós vamos querer parar para ouvir – mais ainda se ele acrescentar à narração o tempero irresistível do “eu estive lá”. Mas, se a história for tola, mal contada e sem graça, nós vamos prestar atenção também – mesmo que apenas por alguns segundos, antes de sair de fininho.
É da nossa natureza a bisbilhotice, e já era assim muito antes de inventarem o Big Brother.
O que mudou radicalmente nos últimos tempos foi a quantidade de canais abertos para a autoexposição, caminho que a internet tornou tecnologicamente possível e as redes sociais projetaram ao infinito. Vivemos hoje numa barafunda de experiências particulares compartilhadas das mais diferentes formas.
A foto do bebê, ainda no hospital, atravessa o planeta poucos minutos depois do nascimento e chega ao celular de uma conhecida (não muito íntima) da mãe. Amores começam e acabam diante de espectadores involuntários e sob o olhar impaciente da fila – que, como todo mundo sabe, anda. Agora já existem até os funerais online, garantindo plateia globalizada até mesmo para o instante mais solitário da existência.
Nunca soubemos tanto uns sobre os outros e em tantos detalhes: onde o amigo está jantando, com que roupa nossa prima vai ao cinema, o programa de televisão a que o vizinho está assistindo naquele instante e se ele gostou ou não da gravata do William Bonner – e também se está deprimido, entediado, com dor de barriga. Tudo devidamente acompanhado de muitas fotos e vídeos, usados não apenas para congelar cada minuto vivido, mas para compartilhá-lo com o maior número de pessoas possível.
Falando assim, parece tudo sem sentido e confuso. E é mesmo, boa parte do tempo. Mas essa overdose de “eu fiz”, “eu sou”, “eu existo”, lançados no cyberespaço mais ou menos aleatoriamente, não eliminou nosso fascínio por aquilo que os outros têm a nos dizer sobre si próprios – e sobre nós mesmos, por extensão. “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho”, disse um dramaturgo romano chamado Terencio.
A narrativa confessional que transcende a banalidade e consegue nos fazer pensar, rir, chorar – ou seja, sermos humanos – apenas tornou-se mais rara e preciosa.
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