segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011



07 de fevereiro de 2011 | N° 16604
KLEDIR RAMIL


Muitos anos de vida

Recentemente cumpri mais uma primavera – quer dizer, mais um inverno rigoroso – e fiquei atordoado com tantas manifestações de carinho. Sim, eu sei que sou uma pessoa querida, mas não sabia que era tanto. Em geral, costumo passar o dia do meu aniversário atendendo telefonemas de alguns amigos, mas como as comunicações evoluíram...

O que aconteceu esse ano é que resolvi abrir um perfil no Facebook com a intenção de divulgar as novidades que vou postando em meu blog, o espaço na internet onde concentro minha produção literária.

Meu propósito não era criar um canal para estar online o tempo todo, no “mural”. Eu já vivo praticamente na vitrine, sou uma pessoa pública e procuro reservar um tempo pra ficar quieto no meu canto. Acontece que fui sacudido por uma tsunami de boas vibrações, provocada por esse conceito de conexão através da “nuvem”.

Com esse tal Facebook – cujo criador é o mais novo bilionário do mundo – todos ficam sabendo o dia do seu aniversário, até os mais desavisados. Sei lá, deve haver uma ferramenta que faz soar um alarme e saltar na tela um pop-up do tipo “manda um recado pra ele”.

O que aconteceu é que foram tantas mensagens chegando que meu Facebook entrou em colapso. Se metade das coisas que me desejaram forem cumpridas, vou ficar intoxicado de paz, saúde e felicidade pro resto da vida. Que, aliás, deve ser longa. Como vários me desejaram “muitos anos de vida”, peguei uma calculadora, somei tudo e cheguei à conclusão que estou condenado a viver até os 840. Tipo assim, um Matusalém.

Sei que a intenção foi boa, mas acho uma irresponsabilidade me desejarem tantos anos de vida sem apresentarem uma solução pra minha aposentadoria. Fiquei com um problemaço pra resolver.

Como não tenho previdência e ninguém lembrou de me desejar “muito dinheiro”, vou ter que seguir trabalhando até o último minuto de vida. Agora, raciocina comigo. Você acha que daqui há 300 anos vai haver alguém interessado em me ouvir cantar “amo tua voz e tua cor...?”. E mais, quem vai trocar a minha fralda geriátrica?

Sinceramente ainda não sei o que fazer. De qualquer maneira, agradeço todas as manifestações carinhosas. Fiquei contente com as centenas de mensagens e por isso resolvi escrever essa resposta coletiva. Gracias a todos, muitos beijos e abraços, e que Deus lhes dê em dobro tudo o que vocês me desejaram.

Inclusive os 840 anos de idade.

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