sábado, 19 de fevereiro de 2011



19 de fevereiro de 2011 | N° 16616AlertaVoltar para a edição de hoje
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES

Velhos tempos

Em dezembro de 1953, completei o serviço militar no glorioso 6º Regimento de Cavalaria do Alegrete e o primeiro ano do curso científico do Instituto Osvaldo Aranha e resolvi me mudar para Porto Alegre, cidade que não conhecia. Queria ser advogado e trabalhar em cinema. Já moravam na Capital os meus irmãos Darcy e Aldo Fagundes.

No Alegrete, eu escrevi alguma coisa para a Gazeta e fazia, na Rádio Alegrete, um programa de poesias gauchescas, cujo forte era o repertório de Lauro Rodrigues. Foi chegar a Porto Alegre e já fui procurar o poeta que eu admirava de longe. Graças ao Aldo, fui encontrá-lo na Censura, ali na Praça da Matriz.

O Lauro, elegante e sério, mas muito bem-humorado, me recebeu de braços abertos e me garantiu, até com certo exagero, que já tinha ouvido falar no meu trabalho de divulgação.

Foi amor à primeira vista, uma amizade e uma admiração que nem a trágica morte do poeta, anos depois, interromperia. O Lauro me levou para a Rádio Gaúcha, em que apresentava o Campereadas, com grande audiência, e me entrevistou. E me fez declamar!

E me apresentou um amigo seu que atuava no programa, um moço que tocava violão, compunha e cantava muito bem. Aliás, já fazia muito sucesso sua mais recente composição – Piazito Carreteiro. O artista? Ora, Luiz Menezes, claro. A amizade entre nós já nasceu eterna – dura até hoje, apesar da morte do Luiz.

Aos poucos – eu sempre grudado no Lauro –, foi me desvendando Porto Alegre. Me tornei assíduo no seu lar, lá na Medianeira, onde conheci dona Vanda, sua encantadora mulher, as duas filhinhas e o gurizinho Moisés Camilo. No outro lado da rua, ficava a residência do historiador Walter Spalding, que quis logo conhecer. O mestre Spalding, homem distintíssimo, também me franqueou a sua impressionante biblioteca e me honrou com sua amizade toda a vida. Muito, muito aprendi com ele.

Aí, o Lauro me levou ao 35 CTG, que eu tanto sonhava conhecer. Ele era sócio do Pioneiro, mas não tinha nem tempo para a assiduidade. O 35 (fundado em 24 de abril de 1948) já era uma referência obrigatória no mundo da tradição, e muita gente boa frequentava as reuniões quarta-feira à noite e sábado à tarde. O CTG se reunia ali na Avenida Borges, no auditório da Farsul. Quando o Lauro Rodrigues me levou lá, quase chorei de emoção: ali estava tudo que eu sonhava.

Na patronagem, o grande gaúcho Ladario Canabarro, impressionante figura de bela cabeleira branca. Na plateia – e logo seriam meus amigos –, o poeta Valdomiro Souza, João Palma da Silva e Horacio Paz.

E uma jovem gauchada alegre, como Ronald Lessa, João Tavares, Antonio Carlos Borges da Fonseca, Zeca Rover, Cyro Dutra Ferreira, o poeta Nitheroy Ribeiro, Claudio Ribeiro e umas prendinhas a coisa mais linda, com brilhantes vestidos floreados. A principal delas era a Teresinha Mariante, bela como a teiniaguá e que cantava muito bem.

Vi, então, que tinha encontrado o meu lugar e pensei: “Eu nunca mais saio daqui!”.

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