quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011



23 de fevereiro de 2011 | N° 16620
MARTHA MEDEIROS


A vontade de um povo

Mais forte que o amor, mais forte que o medo, mais forte que tudo: ninguém pode contra a vontade. O dia em que a gente compreender a magnitude disso, ninguém poderá conosco também. A Tunísia e o Egito mostraram a força da sua vontade recentemente, e fizeram escola, inspiraram outras nações.

As consequências, boas ou ruins, a história dirá, mas o que se pode confirmar dessas experiências políticas é que, quando se deseja verdadeiramente alguma coisa, as paredes somem, ninguém mais está preso.

Uma vez escrevi sobre a diferença entre querer e querer mesmo. Querer, apenas querer, todos querem: um país mais justo, uma vida mais excitante, só que fica tudo no plano dos sonhos. Ah, se um dia Deus olhasse aqui pra baixo...

Querer mesmo é diferente. Os que querem mesmo são considerados “eleitos”, porém não são tão sortudos assim. É um grupo de pessoas extremamente determinadas, que colocam uma coisa na cabeça e a perseguem até alcançar.

Teimosos? Às vezes são, e correm inclusive o risco de serem chatos. Mas, quando atingem seus objetivos, a teimosia se justifica e ganha o status de heroísmo.

A nação brasileira não é heroica, não nesse sentido. Pode ser heroica na luta pela sobrevivência individual, mas, coletivamente, é uma pátria sem vontade. Fazemos piada com a nossa desgraça, reclamamos muito em mesas de bar, mas dificilmente trocamos a praia por uma assembleia, o sofá por uma manifestação de rua.

É do nosso caráter acreditar que alguém fará o que tem que ser feito, não precisamos participar. Um a mais, um a menos, não fará diferença.

Quem dera nos mobilizássemos pelo que é sério assim como nos mobilizamos pelo que é alegre e descompromissado. Invadimos as ruas de um bairro inteiro para seguir um trio elétrico, batemos recordes de telefonemas para eliminar um BBB, vamos em bando ao saguão de um aeroporto para dar boas-vindas a um centroavante que acaba de ser contratado, mas a vontade não é tanta quando está em jogo algo que pode mudar nossas vidas.

Somos solidários na calamidade, fazemos doações, mas passeata para pressionar governantes a tomarem atitudes permanentes de prevenção do caos e da corrupção? Ah, nunca dá em nada. Garçom, mais um chope.

É bonito ver uma população se unir para defender um projeto comum, e assustador também, porque sempre há o componente da violência, seja pelo vigor do ataque ou da repressão. De forma alguma, é fácil. Mesmo quando pacífica, uma manifestação é sempre um barril de pólvora, bastam dois ou três elementos destoantes.

Então, pelo sim e pelo não, o brasileiro vota, enquanto for obrigatório, e o resto deixa a cargo do tempo, que é quem resolve tudo mesmo. Garçom, a saideira e a conta.

Nenhum comentário: